Fonte: Petronotícias
A Ultragaz terá um plano de investimentos mais robusto neste ano, quando pretende desembolsar mais de R$ 300 milhões, conforme revelou o diretor de desenvolvimento da empresa, Aurélio Ferreira. Em entrevista ao Petronotícias, o executivo fez um resumo das ações que a companhia irá adotar ao longo de 2020. Desde o ano passado, a Ultragaz tem apostado na diversificação de seu rol de clientes, buscando atender a novos segmentos, como o agronegócio, por exemplo. “Estamos desenvolvendo solução para o uso de GLP [gás liquefeito de petróleo ou gás de cozinha] no beneficiamento de algodão. O Brasil é um dos maiores produtores mundiais de algodão, que precisa de um nível de qualidade muito bom para ser exportado. Estamos desenvolvendo soluções, seguindo os conceitos de eficiência energética e tecnologia, para justamente melhorar esse processo [de beneficiamento]”, afirmou. Ferreira também detalhou os planos de expandir a presença da empresa no interior do Brasil, investir em novas tecnologias inovadoras, além da preocupação com sustentabilidade e segurança.
Gostaria que começasse fazendo um balanço de 2019 sobre o setor de GLP.
O ano de 2019 foi um ano difícil, pois tivemos mais uma vez uma retração de mercado. Apesar desse cenário, que tem a ver com a economia, eu considero que foi um ano positivo pelo lado qualitativo, por diversas iniciativas que a companhia conduziu ao longo do período.
Na parte regulatória, tivemos um ano de avanços positivos, com muitas discussões sobre a parte de regulação do setor de GLP. Acho que é positivo no sentido de que a sociedade está mais envolvida com essas questões. Mas, olhando ao final do ano, alguns temas que já existam há muito tempo, acabaram tendo uma solução definitiva. Então, acho que é um ponto importante. Tínhamos na nossa indústria dois preços diferentes. Um preço para uso no segmento domiciliar e outro preço para o industrial. E ao longo de 2019, esse assunto foi sendo tratado. A Petrobrás antecipou esse movimento e, em novembro, tivemos as unificações dos preços. Isso foi muito importante, porque todas as vezes que falávamos de investimentos na indústria, sempre esbarrávamos nessa questão dos preços, que eram um pouco artificiais. Agora, houve uma convergência e esse preço, de certa forma, segue mais ou menos o comportamento internacional. Estamos caminhando para ter um conceito de preço de mercado.
No bojo dessa discussão, tivemos também os debates sobre importações de GLP. A Ultragaz já está importando produto, para algumas aplicações, da Argentina. Já começamos a abrir espaço. É um começo para ter alternativas de fornecimento. E também se comenta sobre liberar o uso de GLP, mas esse assunto acaba trazendo outros que vão ser importantes para o desenvolvimento do setor. Do ponto de vista do ambiente regulatório, o mercado teve uma série de conquistas muito importantes.
E dentro da Ultragaz? Como foi o ano de 2019?
Na Ultragaz, trabalhamos muito na parte de inovação. Procuramos usar o GLP em novos usos e novos mercados. Hoje, o GLP tem um conjunto de aplicações, mas ainda possui uma participação pequena na matriz energética como um todo. Então, este é um trabalho que envolve muita tecnologia. Estamos procurando usar o GLP em outros mercados.
Temos que entender muito bem a necessidade do cliente e do que ele precisa; que tipo de processo que ele utiliza; e que tipo de equipamento precisa em seu processo. São vários os exemplos. Desenvolvemos processos desde minas de asfalto até aplicações convencionais, tipo pizzaria a gás. Então, em todos esses processos nós desenvolvemos equipamentos e tecnologias. Isso hoje já representa um percentual significativo do novos negócios que desenvolvemos. Então, mesmo em uma crise que temos com menos investimentos das empresas e indústrias, conseguimos gerar crescimento fazendo coisas novas. Hoje, 20% dos novos contratos que geramos são de aplicações que não existiam há cinco anos.
Outra coisa que trabalhamos muito forte no que podemos chamar de processo de transformação digital. Criamos uma área chamada “BlueRoom” para desenvolver novas tecnologias. Temos também procurado fazer muitas conexões com startups. Já contratamos, mais ou menos, 30 startups para desenvolver ideias. Estamos desenvolvendo novas formas para entender o consumidor. Com isso, trazemos mais inovação para nossos clientes.
Eu vejo que 2019 foi um ano positivo, em que fizemos muita coisa, mesmo com um ano de crise econômica e difícil em termos de mercado.
E em relação ao ano de 2020? Quais são os planos da empresa para aumentar ainda mais sua presença no mercado brasileiro de GLP?
De forma geral, pretendemos continuar apostando nessa parte de inovação. É um trabalho que ainda tem muito potencial. Podemos desenvolver muitas novas aplicações para clientes. Como exemplo, temos uma área onde estamos focando mais forte, que é o agronegócio. Você sabe, é um setor onde o GLP é pouco usado. Países europeus e os Estados Unidos usam bem mais. Aqui no Brasil ainda existe muito a cultura da lenha. Estamos desenvolvendo solução para o uso de GLP no beneficiamento de algodão. O Brasil é um dos maiores produtores mundiais de algodão, que precisa de um nível de qualidade muito bom para ser exportado. Estamos desenvolvendo soluções, seguindo os conceitos de eficiência energética e tecnologia, para justamente melhorar esse processo. Os nossos clientes terão condição de ter um produto de nível de exportação. O GLP, como tem uma combustão mais sofisticada, permite esse processo. Indo por essa linha, começamos a colocar o GLP como uma opção energética para este tipo de consumidor do agribusiness.
Nós também vamos continuar com o processo de expansão orgânica. Temos regiões no Brasil que têm crescimento bem mais elevado, pois são regiões em desenvolvimento. Particularmente, o Norte do Brasil é uma área que estamos com perspectivas de expansão. Ganhamos uma licitação de um terminal em Belém, no ano passado. E, no interior do Brasil, entendemos que cresceremos também. O GLP é um produto que chega em qualquer lugar e tem uma capilaridade imensa. É diferente do gás natural, que só consegue chegar onde tem rede. Para o interior do Brasil, a solução energética ideal é o GLP. Estamos avançando bastante nisso.
Também pretendemos investir e desenvolver soluções para nossos revendedores. A Ultragaz tem cerca de 5 mil parceiros revendedores. Investimos muito neles, com treinamentos e qualificação. Vamos continuar investindo, gerando solução de negócios para esses 5 mil revendedores.
Vamos continuar apostando na parte de tecnologia e inovação digital. Entendemos que esse é o futuro. Hoje, a maior parte dos nossos clientes são digitais. No Brasil, existe um percentual muito grande de pessoas conectadas. Precisamos estar nessa tendência, gerando conveniência através dos canais digitais. Qualquer consumidor de gás tem uma experiência digital em vários outros setores. Então, temos que nos tornar digitais também. E não posso deixar de mencionar que a empresa vai continuar investimento forte em sustentabilidade. Existe um conjunto de grandes ações nessa área. Para você ter uma ideia, as ações de sustentabilidade da Ultragaz chegam, anualmente, a 12 milhões de pessoas.
O que senhor pode nos revelar os novos investimentos previstos da Ultragaz para 2020?
Ainda vamos divulgar alguns detalhes, mas já podemos adiantar que temos um número macro de investimento planejado, que representa um crescimento bem expressivo em relação ao plano anterior. Estamos falando em investir mais de R$ 300 milhões em 2020. É um plano cuja ideia é cobrir vários dos pontos que comentei com você. Temos um foco muito grande no cliente, com preocupação com qualidade e atendimento ao cliente domiciliar e ao cliente empresarial.
E temos todo um crescimento orgânico. Nesse processo que estamos fazendo, buscando mais clientes e consumidores, para atender esse crescimento orgânico. Então, para crescimento e expansão, temos um pacote de investimento significativo.
Tem duas outras coisas muito importantes no nosso programa de investimento. Uma delas é a parte de segurança. Esse é um investimento que sempre temos que fazer para alcançar novos padrões de segurança dentro da indústria, sempre subindo o patamar. O segundo ponto é tecnologia. Não fazemos inovação sem tecnologia. A Ultragaz tem uma estratégia muito baseada em inovação. Temos como princípio sempre ser protagonistas. Então, a tecnologia é uma parte importante.