Fonte: A Gazeta
Diante do distanciamento social que vem sendo proposto como forma de controlar o aumento de casos de coronavírus no Estado, mais capixabas estão em casa e, com isso, maior vem sendo o consumo de Gás Liquefeito de Petróleo (GLP), ou gás de cozinha. Neste cenário, consumidores reclamam da dificuldade de encontrar pontos de venda que disponham do GLP, o que tem causado filas, bem como dos preços que vêm sendo praticados.
Em Marcílio de Noronha, bairro de Viana, Joelma Oliveira, mãe de uma criança de 3 anos, precisou ir para a casa da irmã já que na dela não tem botija de gás. “Não é só em Vitória que está faltando gás. Viana não tem há mais de 15 dias. Estou na peregrinação e não consigo em lugar nenhum e ninguém tem previsão. Liguei para tudo quanto é bairro, na cidade inteira e não sou só eu, tenho vários amigos que também estão sem”, contou.
FILAS NOS BAIRROS
Assim como Joelma, moradores da Serra, Vitória, Cariacica e Vila Velha vêm relatando casos semelhantes. No entanto, para o porteiro Wilson Souza, de 48 anos, o problema maior foi a fila. “Estava todo mundo numa fila gigante esperando para comprar, ali perto dos Correios de Novo Horizonte, na Serra. As pessoas aguardavam o carro do gás chegar, por volta de 17h30”, relatou.
Para Márcia Cosme, técnica em segurança do trabalho, de 37 anos, chamou a atenção a fila em Colina de Laranjeiras, na Serra. “Uma verdadeira aglomeração por volta de 16h30 desta segunda (13) chamou a minha atenção. Eu moro aqui no bairro e estava chegando do trabalho. Fiquei surpresa de ver essa cena diante do momento em que estamos passando, de isolamento. Mas, devido à dificuldade de achar gás, as pessoas foram obrigadas a irem para a rua. Uma fila enorme, o pessoal sem proteção e sem distanciamento”, descreveu.
Na Glória, em Vila Velha, Luciana Gomes, uma moradora da região, contou que chegou a ligar para nove distribuidoras de gás e que, mesmo assim, não encontrou uma botija para comprar. Na semana anterior, havia pagado R$ 75 no produto. “Nesta semana, já falam em R$ 95 a R$ 100”, afirmou.
O QUE DIZEM AS DISTRIBUIDORAS
Procurada pela reportagem, uma distribuidora de gás de cozinha em Santa Mônica Popular, Vila Velha, estava para receber uma remessa com 15 botijas. “Estamos sem gás desde quinta-feira (09). Estávamos indo buscar conforme o fornecedor dizia que tinha, mas de quinta para cá ficamos sem nada e está muito caro. O fornecedor falou que talvez hoje (13) à tarde tenha. Estávamos vendendo a R$ 70, mas só estamos conseguindo por preço alto, aumentou R$ 10 praticamente. Esses que vou receber, entregarei nos restaurantes a R$ 70 para ganhar R$ 5 de lucro”, lamentou Ricardo Nunes, empregado da loja.
Uma envasadora de Cariacica, que vende gás para as distribuidoras, afirmou que até o momento o produto não está em falta e que a procura é grande. Apesar disso, não informou o preço que vem praticando.
Uma reclamação comum a alguns comerciantes de gás da Grande Vitória é a de que não estaria havendo o abastecimento dos depósitos pelas centrais distribuidoras. De acordo com Geisy Araújo Sampaio, de 21 anos, que trabalha no setor administrativo de uma microempresa que vende gás para os consumidores finais, “as centrais estão segurando o gás com o objetivo de alarmar a população”.
“Faremos uma manifestação nesta terça (14) para protestar por não estar havendo abastecimento nos depósitos. Em vez de ir ao depósito, as pessoas estão tendo que ir às centrais comprar gás com valores abusivos. Estão pulando etapa, tirando os intermediários. O Procon nos penaliza se vendermos por preços abusivos e eles devem praticar custos operacionais para nos vender e repassarmos aos consumidores a um preço justo”
COMPRA ANTECIPADA E QUEDA NA PRODUÇÃO
De acordo com o presidente do Sindicato Nacional das Empresas Distribuidoras de Gás Liquefeito de Petróleo (Sindigás), Sergio Bandeira de Mello, há dois motivos principais que levaram à dificuldade em encontrar gás de cozinha. O primeiro deles é a compra antecipada no país, caracterizada pela corrida por estocagem feita pelas famílias, com medo de que o produto faltasse durante o isolamento social, e o segundo fator seria a queda na produção do GLP.
“Ninguém se preparou para isso. Era esperado um pequeno aumento na busca por botijas de 13 kg, mas não era esperado que fosse feita carga do produto. É como se as pessoas tivessem corrido às lojas e comprado os estoques. Assim, houve esvaziamento do GLP disponível”.
Ainda segundo a autoridade no setor, o isolamento social provocado pelo avanço da pandemia da Covid-19 fez com que as vendas de gasolina e diesel nas refinarias caíssem e que, com isso, a Petrobras passasse a produzir cerca de 40% menos, processando menos petróleo. “O GLP é parte desses produtos que fazem do petróleo. Diminuiu a oferta somado ao fato de que houve explosão na demanda. O que tem sido feito então é a importação de toneladas de GLP, além do que já era comprado anteriormente”.
Sergio Bandeira de Mello
Presidente do Sindigás
“Não houve paralisação do suprimento, mas estamos com dificuldade de responder imediatamente à reposição do estoque comprado. Isso gera a sensação de desconforto e escassez. Mas a gente imagina que ao longo do mês, em 10 ou 15 dias, sejam refeitos os estoques. Existem razões para acreditar que o preço também vai cair, a Petrobras já diminuiu na origem. O ideal é esperar e comprar mais para frente. Se precisar imediatamente, o certo é pedir nota fiscal e denunciar o preço abusivo ao Procon, mas acredito que o aumento não esteja sendo generalizado”
RISCO DE DESABASTECIMENTO
Apesar do aumento na procura pelo gás de cozinha, a Petrobras informou que não há risco de desabastecimento do setor, bem como ressaltou que não é necessária a estocagem dos botijões. Em nota, a empresa afirmou ter importado, desde o dia 30 de março, o equivalente a 4,7 milhões de botijões para abastecimento nacional, sendo que há previsão de recebimento de mais 27,4 milhões de botijas em abril.
“Nas últimas semanas, a procura por GLP aumentou, ao contrário dos demais combustíveis como gasolina, diesel e querosene de aviação que tiveram grande queda nas vendas. A diminuição da demanda dos demais combustíveis fez com que o processamento das refinarias fosse reduzido. No caso do GLP, a queda da produção continuará a ser compensada pelas importações do produto”.
PREÇO EM QUEDA NA ORIGEM
Apesar dos relatos dos consumidores no sentido do aumento do preço das botijas de gás de cozinha pelas distribuidoras, a realidade, de acordo com a Petrobras, é de redução de 21% do preço do GLP na origem.
“A última redução no preço do GLP foi de -10%, no dia 31/03. O preço médio do GLP nas refinarias da Petrobras é equivalente a R$ 21,85 por botijão de 13kg. No acumulado do ano, a redução é de cerca de -21%. A Petrobras conta com as distribuidoras e revendedores para que as reduções do preço do botijão de gás cheguem até o consumidor final”, informou em nota.