Fonte: O Estado de S. Paulo
O comando da Petrobrás aprovou a privatização da primeira das oito refinarias das quais quer se desfazer. A Landulpho Alves, na Bahia, será vendida para o Mubadala, fundo de investimento dos Emirados Árabes, por US$ 1,65 bilhão. A estatal espera receber o equivalente a R$ 9,1 bilhões pela fábrica de derivados de petróleo.
O conselho de administração da Petrobrás aprovou ontem a venda da Refinaria Landulpho Alves (Rlam), na Bahia, para o Mubadala, fundo de investimento dos Emirados Árabes, que vai pagar US$ 1,65 bilhão pela fábrica de derivados de petróleo, como gasolina e óleo diesel. A estatal calcula que vai receber R$ 9,1 bilhões pelo ativo, considerando o dólar da última terça-feira. Mas esse valor ainda vai ser ajustado quando a transação for concluída, o que deve acontecer até o fim do ano.
Foi a primeira operação de venda, de um total de oito refinarias que entraram na lista de privatização. Instalada no município de São Francisco do Conde, a Rlam responde por 14% de toda produção nacional de derivados de petróleo. A unidade quer expandir a fábrica, de olho no abastecimento do mercado do Nordeste. “Acreditamos que, a partir da conclusão do nosso investimento na Rlam, seremos capazes de atrair parceiros globais de negócios para o setor”, afirmou Oscar Fahlgren, diretor-executivo da Mubadala Capital no Brasil.
A privatização da Rlam é uma vitória do atual presidente da empresa, Roberto Castello Branco, que deixa o cargo no mês que vem, após ser criticado e demitido pelo presidente Jair Bolsonaro por conta de sucessivos reajustes de preços. O mandato do executivo terminou há cinco dias, mas ele vai permanecer até a chegada do seu substituto, o general do Exército Joaquim Silva e Luna. Assim, Castello Branco conseguiu dar a largada num projeto idealizado em 2019 – o de ceder espaço da Petrobrás no comércio de combustíveis a investidores privados. ‘Intervenções’. O segmento de produção de derivados de petróleo é, hoje, dominado pela Petrobrás, dona de quase a totalidade do parque nacional. Ao se desfazer de refinarias e estimular a entrada de concorrentes, a atual diretoria da petrolífera espera evitar que o governo, sócio majoritário da companhia, interfira nos preços dos combustíveis. A expectativa é de que o Mubadala e possíveis novos investidores cobrem pela gasolina e pelo diesel valor equivalente ao de importação, variáveis conforme às oscilações do dólar e do petróleo.
O desinvestimento da Rlam vai contribuir para “iniciar um processo de redução de riscos de intervenções políticas na precificação de combustíveis”, disse Castello Branco, no comunicado da venda da refinaria. Ele afirmou também que o negócio vai ajudar a empresa a reduzir a dívida e melhorar a alocação de capital.
O projeto de privatizar refinarias surgiu, na verdade em 2018, no governo de Michel Temer. A intenção, inicialmente, era vendê-las em blocos, para agregar ao negócio. Em sua gestão, Castello Branco optou por desmembrar o projeto e as licitações ocorreram separadamente. Em uma delas, a empresa já não teve sucesso – a da Refinaria do Paraná (Repar), porque nenhum dos interessados apresentou um valor que fosse considerado adequado.
O valor de US$ 1,65 bilhão a ser pago pelo fundo árabe foi alvo de crítica de analistas e chegou a deixar alguns dos conselheiros cautelosos na hora de aprovar a venda na reunião, segundo fontes. Dois deles pediram vista, na tentativa de adiar a decisão, mas tiveram o pedido negado. Segundo o BTG Pactual, a proposta do Mubada ficou 35% abaixo do limite inferior de suas estimativas. Já o Instituto de Estudos Estratégicos de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (Ineep) estimou valor de US$ 3 bilhões para o ativo, quase o dobro do que será pago pela refinaria.
A Petrobrás rebate as críticas. De acordo com a empresa, bancos e consultorias técnicas consideraram que a propostado Mubadala se encaixa numa faixa de valores considerados justos. Presidente da Federação Única dos Petroleiros (FUP), Deyvid Bacelar disse que a entidade vai tentar reverter a decisão na Justiça e que poderá ampliar a greve, que hoje acontece em quatro Estados. “Essa refinaria teve e tem um papel central no desenvolvimento do País, do Nordeste e do Estado e, agora, a perspectiva é de se romper com essa trajetória histórica desenvolvimentista da companhia.”