Fonte: O Dia
A Petrobras anunciou, na última semana, o reajuste nacional de 39% no preço do gás natural vendido às distribuidoras de gás de todo o país. A medida vale para todo o Brasil e, com a correção, o preço ficará acima do patamar observado antes do início da pandemia de covid-19. Esse aumento impactará os consumidores a partir de 1º de maio, em um ano no qual a estatal já aumentou os preços da gasolina em 46,2%, do diesel em 41,6% e do gás de botijão em 17%. O reajuste chega ao bolso do consumidor na forma de aumento de tarifas, pois as empresas e produtos precisam repassar o custo do gás comprado da Petrobras.
De acordo com um levantamento da distribuidora de gás canalizado do Rio de Janeiro, Naturgy, 63 indústrias já deixaram de usar o gás natural de 2016 a março deste ano no Rio de Janeiro e substituíram por outros energéticos. E, segundo a empresa, esse número tende a aumentar. A empresa enfrenta, ainda, uma inadimplência de quase 30% em razão da pandemia e relata preocupação adicional com este novo aumento da Petrobras que impactará os clientes.
Segundo especialistas do setor, são três os fatores que levaram a esse reajuste: a alta do petróleo no mercado internacional, a taxa de câmbio e o reajuste da parcela do preço referente ao transporte do gás pelo IGPM, o qual, até março deste ano, acumulou alta de 31% em 12 meses.
Em 2021, o preço do gás nacional vendido pela Petrobras para o Rio de Janeiro subiu 42,3%, enquanto a inflação média, até março, foi de 6%. O incremento total do gás natural, de 1998 até hoje, chega a 1.982%.
A Associação Brasileira das Empresas Distribuidoras de Gás Canalizado (Abegás) afirma que os aumentos praticados pela Petrobras reduzem a competitividade do gás natural em relação a outros energéticos e inviabilizam investimentos. “Para combater esse tipo de situação, defendemos uma maior concorrência na oferta de gás natural, mais investimentos em infraestrutura de escoamento, processamento e transporte e também acesso à infraestrutura existente. O Rio de Janeiro é um importante estado produtor e tem grandes reservas de gás natural, mas enfrenta o desafio de expandir o mercado de gás natural e garantir demanda para viabilizar os investimentos”, afirmou a entidade, em nota.
“O gás natural é um combustível que compete com vários outros energéticos, como a eletricidade, o GLP [gás liquefeito de petróleo], o carvão, a biomassa. Com mais este aumento, estamos diante de uma perda enorme de competitividade do nosso produto, que acaba perdendo mercado para outros combustíveis. O gás a este preço inviabiliza a expansão pois reduz o interesse pelo produto. Com o insumo mais barato, seria possível expandir mais a rede e levar o gás natural a mais localidades. O potencial de crescimento seria muito maior”, explica Katia Repsold, CEO da Naturgy. “Essa perda de competitividade do gás vem ocorrendo há vários anos. Isso faz com a distribuidora perca clientes e impacta o plano de investimentos da empresa. Sem interesse e demanda por parte dos clientes, novos investimentos não se justificam”, conclui.
Hoje, o Rio de Janeiro já é o estado mais gaseificado do Brasil, com 25%, enquanto a média do país é de apenas 3%. O estado também representa 22% do consumo nacional de gás natural. No entanto, o elevado custo do gás dificulta a continuidade da expansão no estado, por falta de competitividade frente aos outros energéticos.
Mesmo com a perda de competitividade ocorrida nos últimos meses, a Naturgy ainda conseguiu continuar expandindo e modernizando a rede de distribuição e em 2020, apesar da pandemia, foram mais de 40 mil novos clientes conectados e 15 novas indústrias.
Em 23 anos de gestão, a Naturgy já investiu mais de R$ 7,8 bilhões no Rio de Janeiro, gerando 14 mil empregos diretos e indiretos. A empresa modernizou a infraestrutura de fornecimento, triplicou as redes de distribuição de 2 mil km para 6 mil km no Estado do Rio de Janeiro, ampliou de 1 para 53 os municípios atendidos, e praticamente dobrou o número de clientes, que hoje já ultrapassa 1 milhão.
“Desde meados da década de 2010, a demanda da indústria por gás acumula queda de 20% no Rio de Janeiro. É preciso investir em políticas públicas para que o gás seja uma ferramenta de retomada e expansão da economia a partir do fortalecimento da indústria de energia, petroquímica e GNV”, diz Celso Mattos, vice-presidente da Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro (Firjan).
Segundo Katia Repsold, por ser um estado produtor, o Rio de Janeiro deveria ter um gás competitivo para atrair empresas com consumo intensivo de gás: “Isso faria com que as infraestruturas instaladas fossem mais eficientes, permitindo que o gás fosse utilizado de forma mais eficiente”, conclui.
O preço do gás para o consumidor de gás natural canalizado é composto, em sua maior parte, pelo custo do gás natural vendido pela Petrobras, pelos custos de transporte e pelos impostos federais e estaduais. Isso corresponde a cerca de 85% da fatura. Apenas o restante, em média 15%, é relativo à parte das distribuidoras.
A Naturgy ressaltou que o repasse desse reajuste do gás pela Petrobras às tarifas para o consumidor são custos não gerenciáveis, que não trazem nenhum ganho para a empresa. Ao contrário, prejudica a todos por reduzir a demanda por um combustível menos poluente e abundante no estado.