Fonte: IstoÉ / imagem: Divulgação
Nada tira mais as noites de sono do governante que o pesadelo da alta dos combustíveis que pode, definitivamente, comprometer sua campanha eleitoral. Bolsonaro tenta de todas as maneiras fugir da encruzilhada. Opta, para variar, pelo caminho mais fácil e inconsequente: o da retirada do presidente da estatal, general Joaquim Silva e Luna, subitamente convertido em persona non grata do capitão por colocar graxa nos seus planos de um segundo mandato. Bolsonaro e os aliados querem Silva fora o quanto antes para concretizar a interferência indevida nos preços praticados. O Exército e agentes do mercado montaram uma espécie de cordão de isolamento em torno do general e alertaram o Planalto para o perigo do populismo em curso. No cabo de força sobra impetuosidade, cegueira e ambição sem limites por meio da ala do capitão. Bolsonaro, como a dar recados ameaçadores sistemáticos, diz que “todo mundo pode ser trocado”. Produzir ruídos no momento em que o mundo está sentado sobre um barril de pólvora é especialidade dele. Dias atrás, diante do aumento da cotação do petróleo no mercado internacional e da consequente majoração de gasolina (18,8%) e diesel (24,9%) pela Petrobras, o presidente foi ao limite da impaciência. Interlocutores o viram aos berros no seu gabinete. Publicamente, chamou a companhia de insensível, reclamou do “timing” e disse, sem cerimônia, que iria meter a mão grande no assunto. Logo a seguir, o Congresso aprovou um projeto que unificava as cobranças de ICMS sobre os combustíveis. Entrava ele direto e sem cerimônia na seara dos estados e municípios, que passam a perder arrecadação. É da natureza do Executivo fazer populismo e promover benesses com o dinheiro alheio. Não há como evitar as regras de mercado em um País que prega a livre iniciativa. Mas Bolsonaro tenta. De todas as maneiras. O botijão de gás, no mesmo leque de derivados com valores em alta que atazanam o mandatário em sua corrida pela reeleição, já virou um problema maior que o da terceira via de adversários nas urnas. Sendo comercializado por inacreditáveis R$ 150 em alguns casos, na ponta da distribuição, ficou dessa forma bem acima dos prometidos R$ 35 (“no máximo”) que o governo havia estabelecido como meta de final de mandato. Nem o chamado Auxílio Gás foi capaz de atenuar o drama daqueles que dependem vitalmente do botijão para viver e se alimentar. A população que já havia perdido renda, emprego e caminhado de volta à miséria ultrajante está agora, em boa parte, vivendo à base de lenha, como nos tempos das cavernas. É um ônus e tanto para o projeto do Messias que se apresentava como o salvador da Pátria. Cada vez que um brasileiro estiver, de agora por diante, acendendo um candeeiro à vela ou o fogo a carvão lembrará do nome do culpado. O pessimismo aumenta nas hostes partidárias e nos corredores de Brasília. O fator combustível tem sido um fardo pesado demais para se carregar. O presidente que ficou apático e resignado, sem nenhuma medida de resposta, diante da crise hídrica, da falta de remédios e infraestrutura nos hospitais para enfrentar a pandemia, e em quase todas as circunstâncias de carência – até da fome – que castigavam os cidadãos, passou a temer pelo próprio destino. A guerra do Petróleo está cobrando seu preço e ele parece demasiadamente alto até para um “mito”.
Carlos José Marques Diretor editorial