Fonte: Insight
A abertura das discussões do segundo dia do 35º Congresso da AIGLP, hoje, no Rio de Janeiro, teve como tema “Programas Sociais: Capacidade Fiscal dos Países”. O executivo da Gasnova Alejandro Mrtinez comentou a situação do consumo de gás na Colômbia. Segundo ele, nos últimos dois anos houve uma queda de 9% no segmento de GLP residencial, o que indica que uma parcela ainda maior das famílias está usando lenha. “O aumento do preço do energético afeta o consumo, devido ao alto impacto social do energético”, ressaltou, destacando que este ano começa um programa de US$ 2 milhões voltado às famílias para combater o uso de lenha.
“Na Colômbia, o GLP não tem uma política de subsídios robusta como os combustíveis líquidos têm, da ordem de US$ 3 bilhões de dólares anuais, e até mesmo o GN, de US$ 100 milhões anuais. No caso do GLP, os subsídios são de aproximadamente US$ 25 milhões por ano”, criticou Martinez, ao avaliar a dificuldade em se aumentar recursos para o GLP, uma vez que os demais combustíveis já são extremamente subsidiados.
A professora da PUC-RJ Adriana Gioda lembrou que o consumo da lenha é também um hábito cultural, mas em menor escala, porque muitas vezes o fogão a lenha é uma opção. Na maioria dos casos, é uma questão de pobreza. Segundo ela, a transferência de renda pode reduzir significativamente o consumo da lenha catada, inapropriada para a queima, mas alertou que é preciso definir diretrizes criteriosas para que os recursos destinados às famílias de baixa renda para a compra do gás tenham o emprego correto.
Na visão do professor da UFRJ Marcelo Colomer, palestrante do painel, moderado por Diego Alves, da AIGLP, é urgente a elaboração de políticas públicas que pensem na substituição da lenha dentro dos lares das famílias mais pobres, uma vez que a lenha traz inúmeros problemas de saúde, atingindo prioritariamente mulheres e crianças, e causa também danos ao meio ambiente. “Não se trata de fazer uma política de incentivo ao GLP, mas uma política de redução de consumo da lenha”, destacou. Colomer ainda frisou: “acesso físico não é acesso econômico. É preciso que o produto caiba dentro do orçamento familiar”. O professor também criticou subsídios horizontais, como controle de preços. “Não são adequados para uma política de modernização energética porque beneficiam quem não precisa dele.”
O último painel do evento “Infraestrutura Primária de Abastecimento – Desafios para os Próximos Anos” foi moderado por Marisa Barros, diretora no MME. Na palestra de Marcus D’Elia, sócio-diretor da Leggio, foi destacada a necessidade de investimento em infraestrutura portuária devido à ocupação relativamente alta onde o GLP opera, com necessidade de investimento em berços nos terminais portuários. “Há uma tendência de maior ocupação ao longo do tempo, caracterizando a formação de um gargalo logístico, que poderá se agravar em um horizonte de 15 anos”, alertou o consultor.
D’Elia também chamou atenção para o fato de a importação do produto ser quase totalmente via Petrobras um ponto preocupante, já que ainda não existem players preparados para ocupar as lacunas que serão deixadas com a redução da atuação da estatal. “Mesmo com a inclusão dos projetos futuros de UPGNs, será fundamental o investimento em infraestrutura para importação. Há gaps crescentes, que atingem 1 milhão de toneladas de GLP por ano, em 2029, com projeções de 1,4 milhão de toneladas do energético em 2035”, alertou D’Elia.
O diretor da WLPG, Michael Kelly disse que a guerra na Europa, embora siga tendo um impacto global, afetou muito pouco a indústria de GLP, que se mostrou bastante resistente em cenários de crise. “Não sabemos, no curto prazo, o impacto da guerra no mercado de GLP. Dependerá do tempo de duração, se haverá uso de armas químicas, se será apenas um conflito regional ou se é o começo de uma terceira guerra mundial”, destacou Kelly. E acrescentou: “Um dos pontos fortes na nossa indústria é o abastecimento no mundo inteiro, não dependemos da Rússia, como o gás natural depende no âmbito da Europa; até agora o impacto tem sido relativamente mínimo na nossa indústria em nível global”, avaliou.
Alejandro Catalini, da YPF Argentina, ressaltou o excedente de produção de GLP, fruto da reserva de gás natural Vaca Muerta, a maior do planeta, localizada na Argentina, que demandará e incorporação de infraestrutura para transportar o GLP. “As exportações atuais vão aumentar substancialmente. Essa é a melhor notícia que podemos dar”, afirmou.
Alisson Matos, da Nacional Gás, lembrou que todo o abastecimento no Brasil foi pensado em cenários regionais e é preciso desenvolver estruturas para pólos de entrada externos do energético. “Esse é um grande desafio a enfrentar para não sermos pegos despreparados, especialmente nos próximos anos, com o processo de desinvestimento da Petrobras. O Brasil tem um mar de oportunidades em infraestrutura com vistas a ampliar a eficiência do trabalho do setor”, concluiu.