Fonte: PetroNotícias / imagem: AIGLP
A indústria de GLP está reunida em peso nesta semana no Rio de Janeiro para participar do Congresso da Associação Ibero-americana de Gás Liquefeito de Petróleo (AIGLP). Hoje (25), último dia do encontro, um dos temas centrais em debate será a questão do preço desse insumo. Para abrir o noticiário desta sexta-feira e antecipar um pouco as discussões que acontecerão no evento de logo mais, o Petronotícias conversa hoje com o presidente da AIGLP e diretor de Relações Institucionais na Supergasbras, Ricardo Tonietto. O executivo antecipa que a tendência é que os preços continuem elevados e, portanto, daí vem a importância dos programas sociais destinados a ajudar a população mais carente na hora de comprar o gás de cozinha. Para Tonietto, o Auxílio Gás criado pelo governo recentemente é um avanço, mas precisa de aprimoramentos. Uma das bandeiras defendidas pela indústria é que o auxílio tenha uma destinação específica para a compra do botijão. “Fazer isso de forma generalizada ou de uma forma a não destinar aquele dinheiro especificamente para a compra do GLP pode fazer com que esses recursos acabem sendo usados para outras finalidades”, avaliou o executivo. “Queremos mostrar que os programas sociais efetivos têm uma destinação específica”, acrescentou. Tonietto também comenta sobre outro assunto que será discutido hoje – a infraestrutura de abastecimento primário -, além de avaliar as perspectivas de novos investimentos e o crescimento da produção nacional de GLP.
O evento acontece em um momento em que os preços dos derivados (sobretudo o GLP) estão no centro do debate da economia brasileira. De que forma o congresso deste ano pretende contribuir com essas discussões?
Esse tema acaba sendo transverso em todas as palestras do evento, porque uma das preocupações da indústria do GLP é com consumidor final, especialmente com aqueles que são mais sensíveis. Temos plena consciência de que o nosso produto tem um papel social relevante. Um dos pontos que abordamos muito é a questão da concorrência – isto é, como mercados concentrados e oligopolizados podem repercutir no preço.
O principal foco é o consumidor no final dessa cadeia. Um dos temas que já debatemos ontem foi o mercado no cenário mundial. Obviamente, o Brasil ainda é importador de GLP e o país segue uma paridade internacional. Indiscutivelmente, não teremos no futuro uma redução no preço, em função de tudo o que estamos vivendo – pandemia e guerra da Ucrânia. Então, a tendência é que os preços continuem elevados.
Existe um outro tema, que vai ser debatido hoje, que são as experiências da América Latina com programas sociais. No final do ano passado, foi aprovada a lei do Auxílio Gás para os brasileiros. Queremos trazer luz para esse debate. Entendemos que quando você quer beneficiar alguém, é preciso dar o dinheiro com um destino específico. Fazer isso de forma generalizada ou de uma forma a não destinar aquele dinheiro especificamente para a compra do GLP pode fazer com que esses recursos acabem sendo usados para outras finalidades. Queremos mostrar que os programas sociais efetivos têm uma destinação específica.
Qual a importância dessa destinação específica defendida pela indústria?
É importante deixar registrado que um dos pilares do mercado de GLP é a liberdade de preços. Nós defendemos a liberdade para estimular investimentos privados. Mas também sabemos que grande parte do nosso produto, seja no Brasil ou na América Latina como um todo, é usado principalmente para cocção. Além disso, devido à capilaridade do GLP, ele chega a vários locais com pessoas de baixo poder aquisitivo. O que entendemos é que se o país pretende dar um benefício, que seja destinado especificamente aos mais vulneráveis.
As pessoas mais pobres precisam ter alguma verba para comprar o botijão. Acontece que, muitas vezes, uma pessoa que receberá esse auxílio poderá usar esse dinheiro para atender outra necessidade. O objetivo da lei do Auxílio Gás é diminuir o impacto do preço atual do GLP para a população de baixa renda. No entanto, nos moldes atuais, talvez isso não esteja acontecendo. Por isso, defendemos que a destinação de programas sociais seja para quem, de fato, precisa. Obviamente, cabe a cada governo estabelecer o público que terá direito a receber o benefício.
No caso de Brasília, por exemplo, existe um programa com destinação específica no qual os beneficiários têm um cartão para usar o benefício apenas para a compra de gás em revendas autorizadas. Assim, é possível monitorar que aquilo que você idealizou como benefício social de fato está atingindo as pessoas que mais precisam.
Então, esse é o aprimoramento necessário que a indústria acredita que deveria ser aplicado ao Auxílio Gás?
Entendemos que a lei federal e o programa federal brasileiro deveriam ter uma destinação específica. Achamos que isso será a melhor forma de atacar, de fato, o problema. Obviamente, achamos que o que foi feito é elogiável, mas pode ser aperfeiçoado para um melhor acompanhamento dos indicadores sociais.
Poderia fazer um balanço do que foi apresentado no primeiro dia do congresso?
A diretora Heloisa Borges [foto ao lado], da Empresa de Pesquisa Energética (EPE), trouxe um cenário futuro de oferta e demanda de GLP. As perspectivas e os estudos da EPE sinalizam que no final da década, o Brasil se tornará exportador líquido de GLP. Obviamente que muito desse GLP terá como origem o pré-sal. Então, haverá um crescimento dos investimentos em gasodutos, nas rotas do pré-sal e no gás natural. Essa autossuficiência em GLP é um ponto importante, trará mais estabilidade para o abastecimento e demandará investimentos de longo prazo.
Para isso, é importante ter uma estabilidade regulatória na capacidade de transporte ou de armazenagem. Esse ponto também será discutido em um dos painéis que serão realizados hoje, para debater a infraestrutura de abastecimento primário de GLP, visando estimular o capital privado a investir em capacidade de armazenagem para receber o GLP que será produzido no Brasil.
Sem dúvida nenhuma, ter mais produtos significa que teremos condições melhores de abastecimento. Contudo, mesmo que o Brasil fosse hoje autossuficiente, acho que seria difícil de termos um preço diferente do que temos atualmente. Commodities como petróleo têm preços internacionais.
Para ter investimentos em todos os elos na cadeia, é muito importante ter estabilidade regulatória. Vamos imaginar, em um cenário hipotético, que o Brasil adotasse uma regra absurda que determinasse que os preços fossem menores. É evidente que o ente privado não faria esse tipo de investimento em um cenário como esse. Os preços seguem uma referência internacional. Hoje, a discussão sobre preço de combustível acontece em todas as partes do mundo, mesmo nos países produtores. Os Estados Unidos, por exemplo, falaram em usar sua reserva estratégica para tentar segurar o preço. Assim, a referência internacional sempre acontecerá em produtos que são commodities.
Olhando para o setor de GLP brasileiro, pode destacar alguns dos principais desafios desse segmento, destacando os tópicos que estão em discussão no evento?
Como eu disse, em qualquer discussão do setor de GLP, o consumidor vai estar no centro do debate. Todos os painéis do congresso trazem discussões que estão muito presentes na agenda regulatória brasileira atual. Por exemplo, no que diz respeito ao investimento em infraestrutura no abastecimento primário, estamos vivendo atualização regulatória na área portuária. A própria Agência Nacional do Petróleo (ANP) tem uma revisão regulatória desse ponto para terminais aquaviários. Queremos trazer uma discussão sobre isso para ajudar os órgãos reguladores e os agentes a entenderem esse tema. O objetivo é contribuir para a construção de uma regulação estável e de uma visão de longo prazo.