Fonte: Sindigás
Ao longo das décadas, o setor de GLP tem apresentado uma série de inovações. No entanto, elas são pouco percebidas, pois o senso comum restringe essa vasta e complexa indústria ao botijão de 13kg. Quando o entendimento está restrito a um único ponto, a percepção do todo fica prejudicada. Isso ocorre, por exemplo, quando atrelam a falta de inovação com a imagem do botijão de 13kg. Essa interpretação limitada sustenta falsas alegações de falta de competitividade no setor.
Contudo, cabe esclarecer e enfatizar que o botijão de 13kg foi tão bem projetado que vem resistindo ao tempo como a melhor solução de embalagem para o gás consumido nas cozinhas. É capaz de acondicionar com segurança um combustível inflamável que fica ao lado da maioria dos fogões de 91% dos lares brasileiros. É como a roda, que não teve, até o momento, uma reinvenção à altura.
O setor de GLP não dispõe apenas de botijões de 13kg para uso domiciliar – existem vários outros tamanhos ofertados aos consumidores brasileiros: 5, 7, 8 e 10 quilos. Todos são intercambiáveis, como o de 13kg. Vale frisar que as embalagens menores não foram desenvolvidas para baratear o gás, pois o custo do quilo sai mais caro em quantidades menores, como acontece com qualquer produto no varejo. Elas foram criadas para atender perfis distintos de famílias, assim como perfis de consumo específicos. Trabalhar para entregar soluções customizadas também é inovação.
Sob outro aspecto, mecanismos que introduzem melhoria no atendimento e agregam comodidade e agilidade também são inovação. Considerando que um dos principais custos do GLP é logística, já que a venda mensal de cerca de 34 milhões de embalagens de 13Kg do produto é entregue na porta do cliente, o setor desenvolveu sistemas de venda de GLP a granel com instalação de tanques no ambiente do consumidor, monitorados a distância. Com essas informações, as distribuidoras sabem quanto o cliente consumiu e quando precisa de reposição de gás, por exemplo. Essa sistemática cria roteiros mais eficientes de reabastecimento, otimizando o transporte e garantindo que o insumo não falte, sendo os tanques reabastecidos com eficiência e comodidade.
Vale mencionar ainda as diversas modalidades de pagamento, que são continuamente incorporadas para que o consumidor se programe e faça desembolsos da forma que julgar mais conveniente – seja com cartões de crédito e débito, PIX e outros meios. As empresas desenvolveram formas de se manter megaconectadas, prontas para um relacionamento cada vez mais próximo e digital, principalmente com o aumento do uso de smartphones e aplicativos. Assim, fica a critério do cliente baixar um app da sua distribuidora de preferência e fazer todas as operações por lá – seja pedir uma recarga, pesquisar preços, condições de pagamento e entrega, entre outras facilidades que estão sempre à mão para a melhor prestação de serviço ao cliente.
Como visto até aqui, as inovações tomam diversos formatos e não param por aí. Aperfeiçoamentos nos botijões também foram introduzidos nos últimos anos, como em válvulas de segurança e a implementação de embalagens mais leves, mas igualmente resistentes e seguras. O setor também vem desenvolvendo diversos projetos acadêmicos, buscando tecnologia de ponta para criar soluções que atendam cada vez melhor os consumidores. Como os projetos autorizados pela ANP para que usos do GLP sejam testados e para que equipamentos possam ser desenvolvidos aqui no Brasil.
Como se vê, é um erro imaginar que o setor é antiquado. Por isso, é importante atentar para as falsas promessas travestidas de “inovações”. Frequentemente, surgem propostas populistas que prometem uma falsa expectativa de redução de preço, mas que não se sustentam seja do ponto de vista técnico, operacional ou econômico, inclusive comprometendo a segurança do consumidor. Um exemplo esdrúxulo é o enchimento parcial do botijão, que permitiria ao consumidor ir a um ponto de venda e comprar a quantidade de gás que desejasse. Tal medida é inviável seja pelas características do setor e atividades envolvidas, como pelo projeto do botijão que temos hoje em circulação. Ou seja, há custos e dificuldades operacionais, principalmente atreladas à segurança do consumidor. Nesse suposto cenário, o consumidor teria que se deslocar até o ponto de venda com o cilindro para envase de gás, fora de uma área industrial, sem tomar em conta que esta etapa é a etapa mais perigosa de todo o processo de manipulação do GLP.
Há, também, outros pontos negativos que se contrapõem a essa medida, como a possibilidade de fraudes na quantidade do GLP inserida no botijão, prática que hoje inexiste no setor graças ao processo de aferição pré-medida; e a abertura do mercado a oportunistas que não querem fazer os investimentos devidos, mas tão somente aproveitar a infraestrutura existente visando exclusivamente o lucro, sem as responsabilidades assumidas, hoje, pelos agentes privados. É importante destacar, ainda, que falta ao Estado condições para, de forma efetiva, fiscalizar um mercado extremamente pulverizado.
Independentemente dos debates e interpretações sobre o setor, as empresas distribuidoras seguirão surpreendendo o mercado com mais e mais inovações para seguir a excelência da prestação de serviço ao consumidor, de forma segura e eficiente, mas sempre preservando a virtuosa regulação econômica construída para garantir a qualidade e a higidez no uso do GLP no Brasil. Por fim, vale frisar que as regulações atuais não apresentam qualquer impeditivo para o desenvolvimento de inovações ou ingresso de novos agentes; elas são necessárias e bem-vindas, assim como aprimoramentos e simplificações. Porém, precisam de fato modificar positivamente a vida dos consumidores de GLP, sem desarticular o mercado vigente que, através das distribuidoras, leva o GLP de forma sustentável, competitiva e segura ao consumidor brasileiro.
Sergio Bandeira de Mello – Presidente do Sindigás