Fonte: Jornal de Brasília / imagem: Pexel
Após um primeiro semestre de alertas, o setor de petróleo agora vê pouco risco de problemas de abastecimento de diesel no Brasil em 2022. A avaliação é que o mercado antecipou estoques e conseguiu se inserir na cadeia de importação do combustível.
A ANP (Agência Nacional do Petróleo, Gás e Biocombustíveis) inicia em novembro um sistema de acompanhamento diário dos estoques do combustível, mas empresas do setor acreditam que o risco de desabastecimento é baixo.
“O Brasil realmente foi ao mercado e tem importado os produtos necessários”, disse a diretora de Downstream (refino, logística e distribuição de combustíveis) do IBP (Instituto Brasileiro do Petróleo e Gás), Valéria Lima, após palestra sobre o tema na feira Rio Oil and Gas, no Rio de Janeiro.
Os primeiros alertas sobre o risco de falta do produto nos últimos meses do ano foram dados após o início da Guerra da Ucrânia, que retirou produção russa do mercado e fez os preços internacionais dispararem. O temor foi intensificado pela maior demanda da Europa para substituir gás natural russo.
Em junho, com as cotações internacionais em patamares historicamente altos, a Petrobras chegou a emitir um alerta ao governo sobre o tema. A avaliação é que a prática de preços defasados impediria importações pelo setor privado.
Cerca de um quarto do volume de diesel produzido no país é importado. A preocupação é maior com o diesel S-10, com menor teor de enxofre, cujo consumo cresceu 10% no primeiro semestre, segundo dados da ANP.
“[O mercado] continua difícil, mas não temos nenhum problema” disse o diretor de Operações da distribuidora Ipiranga, Francisco Ganzer. “Estamos olhando estoques para os próximos 30 a 60 dias, mas o risco é baixo”.
A Ipiranga e as outras duas grandes distribuidoras do país, Raízen e Vibra (ex-BR) têm atuado fortemente na importação de diesel. Diante da necessidade de complementar as importações da Petrobras, o preço defasado deixou de ser uma questão relevante.
Com grandes volumes de venda, essas empresas têm capacidade para fazer um mix de preços entre os produtos comprados da estatal e o importado.
A própria estatal ampliou seus estoques para evitar riscos no período do ano em que o consumo do Brasil cresce para movimentar a safra agrícola.
Também presente ao evento, o superintendente da ANP Rubens Cerqueira Freitas demonstrou preocupação com o atendimento futuro de diesel S-10 e defendeu investimentos na construção de novas refinarias no país.
Segundo ele, uma nova unidade poderia ser construída na região Centro-Oeste, diante do crescimento do consumo. As refinarias brasileiras ficam todas próximas a costa e o agronegócio depende de entregas por dutos, trem ou caminhões.
Lima, do IBP, disse não acreditar em viabilidade de uma nova refinaria tradicional no país, já que o mundo fomenta a transição para combustíveis menos poluentes e a recuperação de um investimento em refinaria leva tempo. “A janela da transição é muito curta.”
Ela afirmou, porém, que há uma tendência de investimentos em novos modelos de refino, como biorrefinarias, que usam óleos vegetais para produzir combustíveis. A Vibra, por exemplo, anunciou no fim do ano passado parceria com a Brasil Biofuels para produzir diesel renovável na Zona Franca de Manaus.