Fonte: Agência CMA / imagem: Petrobras

São Paulo – Os analistas do mercado financeiro avaliaram positivamente os anúncios feitos pela Petrobras na abertura do Rio Oil & Gas, evento do setor de óleo e gás em andamento no Rio de Janeiro, mas questionam a viabilidade de implementação após as eleições. Já a Federação Única dos Petroleiros vê riscos de novas interferências até o fim do mandato do atual governo e cita as indicações dos coronéis e um diretor indicados pelo Planalto e fora das regras de governança da companhia.

A XP viu com bons olhos o anúncio feito ontem pela companhia de que investirá US$ 2,8 bilhões em iniciativas para redução de emissões de carbono em suas operações, nos próximos cinco anos, em linha com sua estratégia de viabilizar sua transição energética, sendo que desse total, um volume de US$ 248 milhões será destinado a um fundo de descarbonização especialmente criado pela companhia para desenvolver tecnologias e soluções de baixo carbono.

A análise da XP destaca que vale a pena ficar de olho na exposição da Petrobras ao risco relacionado às emissões de carbono resultante de sua opção estratégica de focar no ativos de pré-sal; e à sua condição de estatal, aliada a uma estrutura acionária com mais de uma classe de ações, o que pode potencialmente afetar os interesses dos acionistas minoritários, além de implicar na política como o principal risco para a sua tese.

A Genial Investimentos comenta que o otimismo demonstrado ontem pelo Ministro de Minas e Energia, Adolfo Sachsida, em relação à venda das refinarias da Petrobras é importante, pois consideram que as operações são um dos pontos chave para redução de risco estrutural para o case da empresa, a medida que reduzem o risco de subsídio dos preços dos derivados, como no passado, mas que, apesar do discurso confiante, o fato de estarmos em meio a um processo eleitoral, a depender da agenda do presidente eleito, pode postergar ou suspender o processo indefinidamente.

A Genial tem indicação “Manter” em PETR4, com preço-alvo deR$ 40,00, uma valorização ante à última cotação, de R$ 29,40.

Cia investirá US$ 2,8 bi em redução de emissões de carbono

Ontem, a Petrobras disse que investirá US$ 2,8 bilhões em iniciativas para redução de emissões de carbono em suas operações, nos próximos cinco anos, em linha com sua estratégia de viabilizar uma transição energética segura e inclusiva.

Desse total, um volume de US$ 248 milhões será destinado a um fundo de descarbonização especialmente criado pela companhia para desenvolver tecnologias e soluções de baixo carbono. Esses foram alguns dos destaques da fala do presidente da Petrobras, Caio Paes de Andrade, por meio de depoimento em vídeo, ontem, durante a cerimônia de abertura da Rio Oil & Gas, no auditório do Museu do Amanhã.

“Trabalhamos sem descanso para neutralizar as emissões operacionais em prazo compatível com o estabelecido pelo Acordo de Paris. Temos um caminho muito claro para cumprir essa meta: estamos priorizando nossos investimentos em descarbonização e o desenvolvimento de bioprodutos”, disse Andrade. Nesse segmento, o presidente ressaltou que a Petrobras está iniciando a produção de uma nova geração de combustíveis, mais modernos e sustentáveis que os atuais, como o diesel renovável e o bioquerosene de aviação.

Os diretores da Petrobras Rafael Chaves (Relacionamento Institucional e Sustentabilidade) e Fernando Borges (Exploração e Produção E&P) também participaram da solenidade, que contou ainda com a presença dos ministros de Minas e Energia, Adolfo Sachsida, e do Meio Ambiente, Joaquim Leite; do prefeito do Rio de Janeiro, Eduardo Paes; do presidente do Instituto Brasileiro de Petróleo e Gás (IBP), Roberto Ardenghy, entre outros convidados.

NOVO GASODUTO

No painel “Aproveitamento do gás natural associado e produzido nos campos do pré-sal”, o gerente executivo de Gás e Energia da Petrobras, Álvaro Tupiassu, destacou que a companhia prevê instalar um gasoduto com capacidade de escoar até 18 milhões de m3 de gás por dia, com mais de 100 km de extensão, integrando uma das principais frentes do chamado Projeto Sergipe Águas Profundas (SEAP Águas Profundas). “Em fase de desenvolvimento, trata-se de um dos maiores projetos de gás do Brasil, tanto do ponto de vista de volume de produção quanto de oferta de gás”, afirmou o gerente executivo de Gás e Energia da Petrobras, Álvaro Tupiassu, em sua palestra.

Localizado na Bacia de Sergipe-Alagoas, a 100 km da costa, o projeto SEAP é consistente com a estratégia da companhia de focar em ativos em águas profundas com elevado potencial de geração de valor, resiliente a cenários de baixos preços de petróleo e com baixa emissão de carbono por barril produzido. “Os investimentos da Petrobras nessa nova fronteira abrirão uma série de oportunidades para a indústria e aumentarão substancialmente a disponibilidade de gás para o mercado nacional, reduzindo o volume de gás importado”, complementou Tupiassu.

EMISSÕES DE CARBONO

No painel “Novas tecnologias para o pré-sal: avanços recentes e como a tecnologia pode ajudar na geração de valor”, a gerente executiva do Centro de Pesquisas e Inovação da Petrobras (Cenpes), Maiza Goulart, destacou que o petróleo do pré-sal é um dos mais descarbonizados da indústria.

“A Petrobras alcançou, em dezembro de 2021, a reinjeção de cerca de 30 milhões de toneladas de CO2 nos reservatórios do pré-sal, evitando sua ventilação para a atmosfera. A projeção é que, até 2025, sejam reinjetados 40 milhões de toneladas de CO2. É o maior projeto de tecnologia de Carbon Capture, Usage and Storage o chamado CCUS do mundo em águas profundas”, disse ela.

Além disso, Maíza ressaltou que a tendência futura da indústria é priorizar projetos duplamente resilientes, conciliando cenários de baixos preços de petróleo e redução de emissões. “Para isso, temos buscado desenvolver mais tecnologias que incorporam eficiência de custo com sustentabilidade, como o All Eletric, flare fechado, separação de gás submarino, entre outras”, acrescentou Maiza.

TRANSIÇÃO ENERGÉTICA

Na sessão “As novas fronteiras exploratórias e os grandes projetos de desenvolvimento da produção para suporte a uma transição energética segura”, o Diretor de E&P da Petrobras, Fernando Borges, destacou a relevância do setor de petróleo para tornar possível a transição para uma economia global de baixo carbono. “O papel da indústria de óleo e gás não é de passagem, mas de viabilizador da transição energética segura. Se mudarmos a abordagem, a forma de fazer a exploração e produção de óleo e gás, a indústria de petróleo será parte da solução para a energia de baixo carbono”, disse ele.

Borges salientou também que as atividades de E&P orientadas por dados ampliam expressivamente a geração de valor dos projetos, reduzindo as incertezas, otimizando custos, além de aumentar sua eficiência e acelerar resultados.

“A nossa nova abordagem na exploração e produção é baseada na nossa principal vantagem competitiva: o nosso conhecimento aprimorado pela transformação digital, inovação e processamento orientado por dados. (…) Criamos o conceito de uma nova geração de campos offshore, que vão incorporar as mais avançadas tecnologias disruptivas, impactando a nossa curva de valor”, frisou ele.

PETROLEIROS VEEM GOVERNANÇA PREJUDICADA

O presidente da Petrobras, Caio Paes de Andrade, acatou interferências e nomeações políticas de assessores indicados pelo Planalto. A Federação Única dos Petroleiros (FUP) cita as indicações de dois coronéis e um diretor indicados pelo Planalto e fora das regras de governança da companhia e vê riscos de novas interferências até o fim do mandato do atual governo.

A mais recente foi a do coronel Luiz Otávio Franco Duarte, amigo do ex-ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, com quem trabalhou no ministério. A nomeação de Franco Duarte ocorreu em agosto, sem divulgação interna. Pouco antes, um outro militar, o coronel Mario Pedroza da Silveira Pinheiro, também indicado pelo presidente Jair Bolsonaro, já havia sido nomeado assessor do atual presidente da Petrobras, segundo a FUP.

“O quarto presidente da Petrobras do governo Bolsonaro, Caio Paes de Andrade completa três meses no cargo nesta terça-feira, 27, reforçando condição de homem de confiança do governo, receptivo a interferências e a nomeações políticas de assessores indicados pelo Planalto”, comentou a FUP, em nota.

Na avaliação da FUP, o balanço dos primeiros 90 dias da gestão do CEO mostra que a governança da Petrobras está comprometida por indicações políticas e ataques na estrutura organizacional da empresa.

“Medidas internas questionáveis estão sendo adotadas para facilitar demandas da presidência da República às vésperas das eleições, afirma o coordenador-geral da FUP, Deyvid Bacelar, referindo-se a recentes mudanças na composição dos comitês e do Conselho de Administração (CA), que facilitam trocas de executivos pelo presidente da empresa.

O Comitê de Pessoas (Cope), órgão da companhia que aprova substituições no alto escalão, passou a ter somente membros indicados pelo governo, sem nenhum conselheiro minoritário.

O conselho da empresa teve os seis conselheiros da União substituídos por indicação do governo em 19 de agosto, durante a última assembleia de acionistas. Dois deles – Jônathas Costa, da Casa Civil, e Ricardo Soriano, procurador-geral da Fazenda Nacional — foram reprovados pelas antigas estruturas internas da empresa, mas aprovados na assembleia. Eles são questionados na Justiça pela Anapetro (Associação Nacional de Petroleiros Acionistas Minoritários da Petrobrás) por conflitos de interesse no cargo, vedados pela lei das estatais.

A FUP também inclui na lista de irregularidades à governança da Petrobras a nomeação, no início deste mês, de Paulo Palaia para diretor executivo de Transformação Digital e Inovação (DTDIT), área responsável pelo Cenpes (centro de pesquisa, desenvolvimento e inovação da companhia), pois o executivo não cumpre requisitos legal e estatutário de título de pós-graduação, não tem experiência e expertise na indústria de óleo e gás e tampouco em Pesquisa e Desenvolvimento (P&D).

Além deste, são alvos do presidente da República os diretores financeiro e de relações institucionais, diz a FUP, que vê risco de novas interferências até o fim do mandato do presidente Jair Bolsonaro, até o final do ano.

Ainda terá tempo para novas atuações políticas na Petrobrás, para tentativas de outras privatizações às pressas e para promover apagão de informações comprometedoras, diz Bacelar, citando afirmação feita pelo ministro de Minas e Energia, Adolfo Sachsida, na abertura da feira Rio Oil & Gas, na segunda-feira, 26, no Rio, de que tem certeza que a Petrobrás vai vender todas refinarias acordadas com Cade (Conselho Administrativo de Defesa Econômica).

A influência direta de Brasília deixou a gestão Paes de Andrade à vontade também para seguir, sem questionamento, a estratégia eleitoreira do Planalto de anunciar sucessivas reduções de preços dos combustíveis, a cada semana, mesmo sem compromisso com critérios técnicos. O objetivo governamental de forjar seguidas boas notícias até a data do pleito é cumprido à risca pelo presidente da companhia, afirma o dirigente sindical.

Ao longo do governo Bolsonaro, os aumentos nos preços dos combustíveis foram recordes, com base na política de preço de paridade de importação (PPI): 118,4% na gasolina, 165,9% no diesel e 97,4% no gás de cozinha, entre 1 de janeiro de 2019 a 23 de setembro de 2022, nas distribuidoras.

Em 90 dias, anunciou quatro quedas de preço na gasolina, com baixa acumulada na refinaria de 18,8%. No diesel, foram três reduções, no total de 12,4%; e no gás de cozinha, dois reajustes para baixo, de 9,9%, concentrados em setembro.

Procurada pela Agência CMA, a Petrobras não comentou as acusações.

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