Fonte: Correio do Povo / imagem: Pexels
A defasagem do preço da gasolina e do diesel no mercado brasileiro voltou a registrar alta esta semana, após semanas de paridade com o mercado internacional, por conta da alta do petróleo. O motivo é a volta da alta do petróleo.
Segundo dados da Abicon (Associação Brasileira dos Importadores de Combustíveis), a gasolina está sendo negociada no Brasil 9% abaixo do mercado externo, e o diesel está com o preço 8% inferior, o que daria margem para a Petrobras conceder aumentos de R$ 0,31 e R$ 0,43 por litro nas refinarias, respectivamente, para voltar à paridade.
Na quarta (5), a Opepe (Organização dos Países Exportadores de Petróleo) cortou a produção em 2 milhões de barris por dia, o que fez preço da commodity fechar em alta de 1,71%, a US$ 93,37 o barril. De acordo com o diretor do Cbie (Centro Brasileiro de Infraestrutura), Adriano Pires, até o teto de US$ 95 o barril, a estatal não tem com o que se preocupar, pois a diferença é pequena em relação ao mercado internacional. Mas, se ultrapassar os US$ 100, será difícil justificar a manutenção dos preços.
A mudança de rota acontece em um momento sensível principalmente para o mercado de diesel, cuja projeção de déficit no mercado brasileiro aumentou de 33 milhões para 115 milhões de litros no mês de outubro, segundo cálculo do IBP (Instituto Brasileiro de Petróleo e Gás Natural).
A entidade avalia, no entanto, que o mercado será abastecido com os estoques feitos pelas distribuidoras e produtoras brasileiras, incluindo a Petrobras, que aumentaram seus estoques após o alerta para um possível racionamento no país em pleno período eleitoral.
Para Pires, a diferença agora para o que ocorreu no início do ano, quando os combustíveis tiveram de ser reajustados para cima, é que o dólar está menos valorizado em relação ao real, e somente uma alta mais expressiva da commodity pressionaria a empresa a realizar novos aumentos. “A notícia ruim é a redução da Opep. A notícia boa para o Brasil é que o resultado do primeiro turno (das eleições) reduziu o câmbio e uma coisa pode anular a outra”, explicou.
Depois de cair para cerca de R$ 5, em meados de setembro, o dólar voltou a se valorizar frente ao real antes do primeiro turno das eleições, mas voltou a cair após o pleito e opera abaixo dos R$ 5,20 no mercado à vista.
Em alta
Para o presidente da Abicom, Sérgio Araújo, com a defasagem de preços, será difícil segurar os preços internos, apesar da proximidade do segundo turno das eleições. “Com o corte pela Opep os preços devem continuar subindo”, avaliou.
O último reajuste do diesel pela Petrobras ocorreu há duas semanas, uma queda de 4,07%, e da gasolina há um pouco mais de um mês, uma redução de 4,8%, e seguem um novo ritmo de reajustes adotado pelo atual presidente da Petrobras, Caio Paes de Andrade.
O consultor de gerenciamento de risco da Stonex, Pedro Shinzato, acredita que a estatal não deve mexer tão cedo nos preços. “Nos últimos reajustes, tanto para cima quanto para baixo, a Petrobras tem sempre sido muito cautelosa. Espera o mercado internacional ‘firmar’ em um novo patamar antes de reajustar e, quando reajusta, faz apenas parcialmente (tanto para cima quanto para baixo)”, avaliou.
“Nos parece extremamente condizente com o que a diretoria da empresa aponta, de que não ‘importam volatilidade externa’, ou seja, só fazem reajuste quando há mudanças estruturais, e não conjunturais”, afirmou.
Indicado pelo presidente Jair Bolsonaro para amenizar a alta de preços da estatal, após duas gestões bastante criticadas pelo governo – do general Joaquim Silva e Luna e José Mauro Coelho -, Paes de Andrade, em pouco mais de dois meses de gestão, já reduziu o preço da gasolina quatro vezes e o diesel três vezes, aproveitando uma janela da queda do petróleo que permitiu a redução de preços por critérios técnicos. Agora, avaliou Pires, o mercado terá de esperar para ver como os preços da Petrobras vão se comportar diante de um cenário de alta.