Fonte: Sindigás

Estudo(*) realizado pelo grupo de pesquisa coordenado pela professora Adriana Gioda, da PUC-RJ, sobre o uso da lenha em fogões improvisados, vai ao encontro da percepção do Sindigás de que o grande desafio do setor de energia no Brasil é o combate à pobreza energética. Premiado no Congresso da Sociedade Brasileira de Química do Rio – SBQ Rio, a pesquisa da PUC-RJ, em parceria com o Instituto Perene e financiado pela Petrobras e FAPERJ, mostrou que a queima de lenha em fogões improvisados em comunidades quilombolas na Bahia ultrapassa os limites considerados seguros pela Organização Mundial da Saúde. A pobreza energética torna os integrantes dessas comunidades muito suscetíveis a diversos tipos de doenças.

Para o Sindigás, a lenha, da forma precária como é consumida nos lares brasileiros, é absolutamente inaceitável. Some-se a isso mais um agravante: o fato de a lenha ser catada, oriunda de madeira usada, que já recebeu algum tipo de tratamento químico. As conclusões do estudo da professora Adriana Gioda ratificam a visão do Sindigás, que considera a pobreza energética um problema complexo, que precisa ser urgentemente sanado. Tendo sido, inclusive, objeto de publicação assinada pela mesma professora, em 2017, sobre queima de lenha e carvão em ambiente fechados.

No ano passado, foram queimadas 24 milhões de toneladas de lenha como fonte de energia nas residências brasileiras, apontou o Balanço Energético Anual realizado pela Empresa de Pesquisa Energética (EPE). Esse número é o maior patamar observado desde 2009. Dados recentes mostram que a lenha ocupa 26,1% da matriz energética residencial. Segundo a série histórica, o uso do fogão a lenha esteve em queda entre 2006 e 2013, quando então voltou a crescer, o que se relaciona com os momentos econômicos do Brasil. E no mundo, segundo estimativas da OMS, 2,8 bilhões de pessoas ainda dependem exclusivamente de combustíveis sólidos, como lenha e carvão, e fogões rústicos para cozinhar e se aquecer. Pelos cálculos da organização, esse número resultaria na morte de, pelo menos, 4,3 milhões de pessoas.

Para o Sindigás, o Brasil está no caminho certo rumo ao combate à pobreza energética, para que o brasileiro, especialmente o da camada mais vulnerável, possa ter garantido o direito ao acesso a energias mais limpas, saudáveis e confortáveis de usar.  O Auxílio Gás pode ser considerado um passo importante alcançado pelo Congresso Nacional, pois já identificou os vulneráveis e alocou recursos somente para esse grupo. No entanto, esse importante programa social não garante que o recurso seja direcionado exclusivamente para aquisição do energético de escolha do Governo a fim de substituir a lenha na matriz energética residencial.

Para que o programa alcance seus objetivos, é realmente importante focalizar nos mais vulneráveis dentro da capacidade fiscal, mas também fundamental que os recursos sejam “carimbados” para que a meta seja de fato o combate ao uso da lenha “catada”, como restos de madeira, caixotes, gravetos. O uso da lenha e de outros combustíveis perigosos para o preparo de refeições gera, além de uma gama imensurável de problemas à saúde, riscos de acidentes domésticos.   

O Sindigás está atento a este debate e vem produzindo materiais a fim de ajudar na criação de soluções para entender o combate à pobreza energética. Em maio deste ano, por exemplo, publicou a cartilha “Acesso ao GLP e o combate à pobreza energética”, da série GLP no Brasil.   

(*) Os resultados são preliminares e estão sujeitos a variações, não têm nenhum viés político e se referem, apenas, a estudos com fogões rústicos.


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