Fonte: Sindigás
As anacrônicas restrições ao uso do Gás Liquefeito de Petróleo (GLP) afastam o Brasil de uma tendência cada vez mais forte das maiores economias do planeta – a de buscar matriz energética limpa, mitigação das emissões de CO2 e alta eficiência energética. As ainda vigentes vedações do energético para uso em caldeiras, saunas, piscinas, motores a combustão e para a geração de energia impedem a completa integração e aproveitamento do GLP na matriz energética brasileira, reduzindo seu potencial de contribuição em prol de uma economia mais desenvolvida, competitiva e sustentável.
Produto versátil, o GLP é conhecido e usado pela quase totalidade da população brasileira, estando presente em mais de 91% dos lares. Pode ser usado em diferentes aplicações nas residências, indo muito além da cocção de alimentos. É eficiente, seguro e tem ótima relação custo-benefício para aquecimento de água, climatização de ambientes, tanto na refrigeração quanto no aquecimento de áreas. É ainda uma opção de energia abundante para áreas remotas, podendo ser utilizado em refrigeradores e freezers e em luminárias movidas a gás. O energético transita com os mesmos atributos observados entre seus consumidores residenciais, por outros setores, como o de comércio e serviços, o da indústria, o do agronegócio e o do setor público.
Aliado a sua versatilidade, o GLP é comprovadamente uma fonte de energia com queima mais limpa que outras, como o carvão, a lenha, os óleos combustíveis e o óleo diesel, que emitem níveis muito maiores de gás carbônico na atmosfera. O GLP é livre de metais pesados e não contamina nem os mananciais, nem o solo. E, se pensarmos em seu alto poder calorífico, teremos a devida dimensão do quão excepcional é esse energético amigo do meio ambiente. Um só botijão de 13kg de GLP produz energia correspondente à queima de dez árvores, ou seja, é extremamente eficiente do ponto de vista energético. Definitivamente, colabora com o compromisso de redução da emissão de gases de efeito estufa.
O GLP é ainda um aliado na construção, para os tempos atuais e futuros, de políticas governamentais que visem conciliar progresso socioeconômico e preservação ambiental. Além de todos os atributos já mencionados, há outra grande vantagem: a sua disponibilidade em todo o território nacional, o que o transforma em uma alternativa de primeira ordem na engrenagem de uma economia sustentável.
Apenas a título ilustrativo, como já citado o segmento residencial, o GLP tem se mostrado eficiente em vários setores da indústria, como o siderúrgico, o de papel e celulose, o de vidro e o de cerâmica e nas usinas de asfalto. Em todos esses, sua queima limpa e, também por este motivo, a maior vida útil de engrenagens industriais. No agronegócio também tem desempenhado um papel inovador, como energia excepcional para o controle de pragas, aquecimento e esterilização do ambiente de criação dos animais, secagem e limpeza de grãos, preservando a qualidade dos alimentos.
Outro exemplo concreto em que o GLP poderia dar uma contribuição de valor é a ilha de Fernando de Noronha, localizada no Oceano Atlântico, a cerca de 540 km de Recife – PE. A ilha enfrenta grandes desafios de infraestrutura com impacto direto ao meio ambiente, como as emissões de gases de efeito estufa causados pelos geradores a diesel. Estudo realizado em 2021, com dados de 2019, apontou que 90% da energia elétrica gerada na ilha era por meio de geradores a diesel e 10% de energia solar. No mesmo ano, a ilha consumiu mais de 6,6 milhões de litros de óleo diesel.
Nota-se, portanto, que o crescimento da demanda global de energia, que tende a aumentar, é um grande desafio para os países, especialmente por que há de se responder a essa demanda com energias de baixa emissão de carbono. O GLP pode desempenhar um papel central em uma trajetória rumo a uma matriz energética mais limpa e eficiente, como um energético de transição. No entanto, é preciso eliminar restrições que impedem o produto de ter uma aplicação mais ampla, em outros diferentes usos.
Sergio Bandeira de Mello
Presidente do Sindigás