Fonte: EPBR / imagem: IBP

RIO – A diversidade é fundamental na transição para uma economia de baixo carbono, afirmou nesta segunda-feira (20/6) a Diretora de Estudos do Petróleo e Gás da Empresa de Pesquisa Energética (EPE), Heloísa Borges. Ela deu uma entrevista exclusiva ao estúdio epbr durante o ESG Energy Forum IBP, no Rio de Janeiro (veja íntegra acima).

“A diversidade e inclusão elas são fundamentais para a gente atingir as nossas ambições climáticas. A mudança climática possui efeitos muito prejudiciais, ou seja, se a gente não combate as mudanças climáticas, a gente prejudica desproporcionalmente mulheres, negros, povos nativos e a camada mais vulnerável da população. Então, eles são os mais afetados pela mudança climática”, disse Heloísa Borges. 

“Por outro lado, se a gente não tem um olhar atento para essa camada, a gente não consegue completar o nosso movimento de descarbonização. Principalmente, porque a transição energética ela vai precisar de muita inovação. E a inovação depende de um olhar diferente. Inovação ela surge justamente da diversidade.”

Heloísa Borges afirma que a falta de diversidade pode colocar em risco a inovação necessária para atingir as metas climáticas.

“A gente já tem vários estudos mostrando que empresas que têm mais diversidade são capazes de inovar mais, de pensar em modelos de negócios mais diferentes, soluções inovadoras para problemas, e a gente precisa disso. Tem um número da Agência Nacional de Energia que mostra que quase 50% das tecnologias que a gente vai precisar para atingir o net zero em 2050 elas não existem ou não são comercialmente viáveis ainda. Para a gente alavancar esse movimento, a gente precisa de inovação e inovação precisa da diversidade.”

Diversidade de fontes e soluções

Para alcançar os objetivos de descarbonização, também será necessário diversificar fontes e soluções. Heloísa Borges ressalta que o Brasil tem características diferentes de outros países, como uma matriz elétrica limpa, programas estabelecidos de biocombustíveis, entre outras. Por isso, não pode simplesmente importar ou “tropicalizar” soluções de países desenvolvidos.

Ela cita como exemplo o Gás Liquefeito de Petróleo (GLP), que é um combustível que reduz as emissões quando comparado às alternativas mais comuns usadas pelos consumidores no Brasil.

“Qual que é a alternativa se você não tem o GLP? A lenha, o carvão. Esses combustíveis são muito mais poluentes e emitem muitos mais particulados, prejudicam a saúde, a qualidade de vida de quem tá ali no dia a dia cozinhando.”

Segundo ela, não faria sentido, por exemplo, seguir o caminho da Califórnia, que está substituindo o gás de cocção por eletricidade, já que os aparelhos elétricos de cozinha estão fora da realidade da maioria dos brasileiros.

“Quando a gente vê por exemplo as estratégias descarbonização da maioria dos países africanos, eles almejam chegar a 50% 70% das residências com GLP até 2050, sua meta de neutralidade do país. Porque eles hoje usam combustíveis que emitem muito mais. Então a gente quando planeja essa trajetória a gente precisa planejar a partir da realidade de cada país.”

Transporte é prioridade

Pelas características da matriz energética brasileira, o transporte tem um peso maior do que em outros países. Por isso, é uma das prioridades na descarbonização, segundo Heloísa.

“Em grandes números, do total de emissões do Brasil, só 30% são do setor energético. Então o setor energético, como a nossa matriz energética já é muito limpa, o setor energético do Brasil emite menos do que no restante do mundo. Para vocês terem uma noção, no restante do mundo é o inverso: 70% das emissões vêm da indústria de energia. Então por isso que a questão energética é tão importante para países onde o grande impulsionador de emissões é energia. No Brasil, isso já não é verdade porque a nossa matriz já é muito limpa. Desse percentual que vem da energia, metade a transporte. 50% das nossas emissões do setor energético são transporte. E por isso que a nossa solução de descarbonização precisa passar pelo transporte, mas não só por ele.”

Ela afirma que a eletromobilidade não atende a todos os segmentos do transporte, mas apenas alguns nichos, como as entregas urbanas. Ressalta ainda a importância dos biocombustíveis para a descarbonização dos transportes e o uso de outras alternativas para o transporte pesado, como o uso de gás natural e biometano.

“Por isso que a gente tem que montar aqui um quebra-cabeça que no final leva a gente na direção de um futuro melhor para a sociedade.”

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