Fonte: PetroNotícias / imagem: PUC-Rio
O Instituto de Energia da PUC-Rio (IEPUC) fez um novo estudo para avaliar o potencial e as condições de viabilização da oferta de gás natural para uso como matéria-prima nas indústrias química e de fertilizantes no Brasil. A principal constatação do trabalho é que o Brasil tem condições de triplicar a oferta de gás nacional ao mercado até o final da década, chegando a 135 milhões de metros cúbicos diários em 2029. O estudo já foi apresentado à equipe do Ministro das Minas e Energia, Alexandre Silveira, no início do mês.
“O estudo é um insumo para o diálogo. Ele foi contratado no sentido de contribuirmos para o debate qualificado para a definição de políticas públicas do gás como matéria-prima, no qual todos os stakeholders devem participar, da produção ao consumo passando por todos os elos deste sistema (escoamento, processamento, transporte etc)”, disse o presidente-executivo da Associação Brasileira da Indústria Química (Abiquim), André Passos Cordeiro.
O estudo do IEPUC verificou que uma parcela importante da produção brasileira de gás natural não chega ao mercado, sendo que, nos últimos 10 anos, o percentual da produção total que é disponibilizada vem caindo e atingiu menos de 40% em 2022. Esta queda, em muito, é explicada pelo crescimento contínuo dos níveis de reinjeção de gás nos reservatórios. Essa reinjeção, por sua vez, ocorre em sua maioria na região do pré-sal, onde o volume reinjetado já ultrapassa 60 milhões de m³/dia – o que representa mais de 40% da produção total de gás natural de todo o Brasil.
“O estudo reforça o acerto do Governo Federal liderado pelo Ministério de Minas e Energia no lançamento do Programa Gás para Empregar, aprovado recentemente em resolução do Conselho Nacional de Política Energética (CNPE). Este Programa representa uma grande oportunidade para o desenvolvimento e reindustrialização do país, buscando caminhos que possam viabilizar o aumento da oferta de gás natural no mercado doméstico, a preços competitivos”, comentou o presidente da Associação Brasileira de Engenharia Industrial (Abemi), Joaquim Maia (foto à direita).
BACALHAU E TUPI COM POTENCIAL PARA PRODUZIR GÁS COM BAIXO NÍVEIS DE CO2
O estudo levantou qual seria a estimativa do volume total de gás reinjetado atualmente nos campos do pré-sal, que poderia ser escoado através da revisão das decisões sobre a reinjeção e se não houvesse restrições de infraestrutura. Essa análise considerou o nível de contaminantes no gás natural de cada área produtora, chegando assim, a uma outra principal conclusão do estudo: as áreas mais promissoras para produção de gás natural não possuem níveis elevados de CO2, existindo áreas com potencial para gás natural praticamente sem o contaminante, que é o caso de Bacalhau e de Tupi – que possuem em média 5% de CO2. O campo de Búzios possui em torno de 25%, teor que ainda viabiliza o seu tratamento e escoamento de gás especificado.
O trabalho explicita, ainda, que pouco mais de 50% do gás reinjetado é referente ao CO2 separado nas plataformas e de gás natural de arrasto, ou seja, volume de gás natural que acaba sendo levado junto com o CO2 no processo de tratamento do gás na plataforma. Portanto, quase a metade do volume reinjetado atualmente, ou cerca de 30 milhões de m³/dia, poderia vir para o mercado se houvesse capacidade de escoamento. Isso significa que, havendo condições logísticas, o pré-sal poderia de imediato duplicar o volume total hoje disponibilizado pela região.
Parte desse volume deverá ser escoado pelo Projeto Rota 3 (rota de escoamento e unidade de tratamento em Itaboraí/RJ), que está atrasado há mais de 7 anos, de acordo com o Ministério de Minas e Energia (MME), e previsto para entrar em operação ao final de 2024. Além disso, é importante a readequação da Unidade de Processamento de Gás Natural (UPGN) de Caraguatatuba e da Rota 1 que conecta esta UPGN ao Pré-Sal.
Neste caso, em particular, a Rota 1 está limitada a escoar 10 milhões de m³/dia de gás (ante a capacidade nominal de 20 milhões de m³/dia). Este importante gargalo técnico decorre da incapacidade no processamento do gás do pré-sal pela UPGN de Caraguatatuba, que foi projetada para o gás do pós-sal de Mexilhão, e está operando fora da especificação. Todo este gás adicional de 30 milhões de m³/dia poderia ser ofertado ao mercado até 2027.