Fonte: EPBR / imagem: Pexels
RIO – O governo da Rússia anunciou restrições temporárias às exportações de diesel e gasolina, numa tentativa de estabilizar o mercado local – que passa por problemas de escassez e inflação dos combustíveis.
A decisão do Kremlin afeta diretamente o Brasil. Com preços competitivos, a Rússia se tornou este ano a principal fonte das importações de diesel do país, superando a liderança histórica dos Estados Unidos.
A posição de Moscou pode significar, portanto, não só a saída forçada de um dos maiores vendedores do já apertado mercado global quanto pressionar os preços globais dos combustíveis – encarecendo os custos de importação do derivado num momento em que o Brasil aumenta, sazonalmente, o seu consumo de diesel para fazer frente ao escoamento da safra agrícola.
A S&P Global, por exemplo, estima que o crack spread (a margem do refino) do diesel global pode subir cerca de US$ 10 por barril, para US$ 42 o barril, na esteira da restrição de oferta russa.
O real impacto sobre o preço para o consumidor, nesse caso, vai depender não só do tempo que durarem as restrições, como também da estratégia de repasse dos custos com importação. A Petrobras, a maior fornecedora do mercado brasileiro, por exemplo, tem evitado o repasse imediato das oscilações do mercado internacional e opera, neste momento, com uma defasagem para a paridade de importação.
“Com a oferta limitada da Rússia, o desconto da Petrobras para a oferta alternativa aumentaria, aumentando assim a probabilidade de um ajuste de preços para cima”, cita relatório do Goldman Sachs.
Antes, Rússia já havia cortado exportação de petróleo
O receio, no mercado global, é de que a decisão do governo russo seja mais uma “arma de guerra”, mais um episódio de retaliação às sanções ocidentais ao país após a invasão da Ucrânia, por meio da pressão sobre os preços dos derivados.
Bancos centrais ao redor do mundo já lidam, hoje, com a escalada dos preços do petróleo, na luta para controlar a inflação.
A interrupção das exportações de diesel se segue à extensão do corte das exportações russas de petróleo bruto, da ordem de 300 mil barris/dia, até o fim do ano.
Nas últimas semanas, os mercados globais responderam rapidamente às notícias sobre a postergação dos cortes voluntários de produção da Arábia Saudita e da Rússia e a commodity voltou a ser negociada acima dos US$ 90 o barril.
O governo russo não deu prazo para o fim das restrições às exportações dos derivados, nem deu maiores detalhes sobre os volumes envolvidos no corte. Afirmou que a proibição entra em vigor imediatamente e não se aplica ao combustível fornecido ao abrigo de acordos intergovernamentais com membros da União Econômica Eurasiática – Bielorrússia, Cazaquistão, Armênia e Quirguistão.
“A Rússia disse no ano passado que os cortes no fornecimento de gás foram apenas temporários, mas apertaram continuamente o laço [do envio à Europa”, lembrou Henning Gloystein, do Eurasia Group, ao Financial Times.
“Com a aproximação do inverno, focar no diesel poderia facilmente impulsionar o petróleo para acima de US$ 100 o barril, com todas as ramificações desconfortáveis que isso traz para a economia mundial”, complementou.
A Rússia já vinha reduzindo suas exportações marítimas de diesel este mês, à medida que as refinarias locais entraram em manutenção sazonal e o mercado interno o mercado enfrentava escassez de combustíveis e aumento de preços.
Mercado global lida com queda de estoques
O mercado global de destilados convive este ano com uma redução nos níveis de estoques, pressionando os preços do diesel e óleo combustível em importantes regiões consumidoras (como EUA, Europa e Singapura).
Desde Julho, tanto os preços do petróleo como as margens de refino têm subido, provocando o aumento dos preços dos combustíveis.
Os preços dos destilados estão subindo, tanto pelos cortes adicionais na produção de petróleo pela Arábia Saudita e aliados da Opep, como pelos limites de capacidade de refino, sobretudo na Europa e Estados Unidos.
Embora os preços já estejam em patamares elevados, há margem para que aumentem ainda mais se os custos do petróleo bruto continuarem a subir e a capacidade das refinarias permanecer limitada, escreveu, recentemente, o analista sênior John Kemp, na Reuters.
“Se a economia global começar a crescer novamente mais rapidamente no final de 2023 e ao longo de 2024, as restrições de oferta deverão afetar rapidamente”, comentou.
Brasil se tornou um dos principais mercados da Rússia
Com a importação de volumes recordes de diesel da Rússia em 2023, o Brasil se tornou este ano um dos maiores mercados das refinarias russas – que vêm buscando rotas comerciais alternativas em meio às sanções da União Europeia e do G7.
Nos últimos meses, o mercado brasileiro se consolidou, a partir de junho, como um dos cinco principais destinos de derivados de petróleo da Rússia, de acordo com dados da S&P Global Commodity Insights.
A Rússia se tornou o maior fornecedor de diesel no Brasil desde abril, superando a liderança histórica dos EUA.
Historicamente pouco relevantes, as importações do diesel de origem russa dispararam, em meio a mudanças no fluxo do comércio global de combustíveis desde o início da guerra na Ucrânia, em 2022.
Estrangulada por sanções das potências ocidentais, a Rússia tem buscado novos mercados e oferecido descontos aos compradores.
Os descontos sobre o petróleo e derivados russos atraíram o interesse de países sobretudo da Ásia. Mas a guerra da Ucrânia redesenhou por completo a dinâmica do mercado e na América Latina não foi diferente.