Fonte: Jota Info / imagem: Petrobras

Em pouco menos de um ano do novo governo, a Petrobras teve pelo menos três momentos de supostas conversas sobre mudança no comando da empresa. A possibilidade de uma reforma ministerial que envolvesse a cadeira da presidência da petroleira foi aventada, mas sem chegar perto de uma viabilidade para essa troca.

Uma minirreforma ministerial até aconteceu para acomodar indicações de partidos de centro, mas a empresa passou intocada. Durante o ano, as justificativas de interlocutores do governo para não mudar a presidência de Jean Paul Prates foram variadas, como a experiência do político no setor de óleo e gás.

A principal delas, mais forte, se baseava na demonstração de instabilidade de um governo que em meses trocaria o comando de sua principal empresa. Não há muito tempo, Jair Bolsonaro trocou dois presidentes da Petrobras e, mesmo com uma plataforma de governo liberal, foi visto com maus olhos até mesmo pelo mercado financeiro.

O cenário deve ser um pouco diferente no ano que vem, quando já se especula uma nova reforma ministerial, depois de um ano da experiência do quadro atual – e no qual, definitivamente, a Petrobras será alvo de interesses diversos dentro do governo Lula.

Uma tendência que tem crescido nos bastidores é a saída de Rui Costa da Casa Civil. A avaliação do entorno de Lula é que o ex-governador da Bahia não funcionou, desta vez, à frente da articulação do governo.

A partir daí, já tem voltado entre o mercado de óleo e gás uma especulação de que Costa poderia assumir o comando da Petrobras como um “prêmio de consolação”, um local para abrigar um importante aliado político de Lula.

O JOTA apurou que, na verdade, o que tem se estruturado atualmente na preparação para as mudanças na Esplanada e que podem impactar o comando da Petrobras é a formação de dois grupos distintos com interesse na petroleira.

Um deles é formado por Rui Costa, e que tem apoiado o nome do seu secretário do Programa de Parcerias de Investimentos (PPI), Marcus Cavalcanti, para eventualmente assumir a companhia. Além de ser um nome de confiança do atual ministro, com passagem na gestão de Costa na Bahia como secretário de Infraestrutura, é um nome ligado ao PSD – o que agradaria o comando baiano da sigla, como o senador Otto Alencar (PSD-BA), e ainda o atual ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira.

Não é segredo para ninguém que Silveira e Prates têm acumulado trocas de farpas públicas desde o início do governo. Seja nas críticas à política de preços dos combustíveis ou na estratégia da petroleira para o gás natural, Silveira mira a queda de Prates e vê na possibilidade de um nome ligado ao seu partido uma chance de estabelecer uma política que envolva maior relação com a empresa.

Fato é que o grupo formado pelos dois defende uma atuação da Petrobras que resgate o desenvolvimento econômico e social dos locais onde a empresa atua, retomando um papel social da petroleira que, para eles, ainda não foi feito.

Não seria difícil de imaginar que essa retomada pode passar por agendas de interesse local, como estruturar uma maior atuação da petroleira na Bahia e com o desenvolvimento da agenda de gás natural em conjunto com a empresa.

Até agora, a Petrobras tem aumentado a oferta de gás natural para o mercado brasileiro e planeja investir US$ 7 bilhões nos próximos cinco anos para aumentar ainda mais a oferta, mas o Ministério de Minas e Energia não conseguiu tirar do papel efetivamente seu programa para garantir um preço mais baixo que pudesse viabilizar a interiorização do insumo chamado Gás Para Empregar, como pretendia no início do ano.

Por outro lado, Jean Paul Prates busca no ministro Fernando Haddad apoio para se manter no cargo. Não é qualquer apoio: Haddad tem sido considerado o ministro com maior número de acertos com a pauta macroeconômica do governo, que envolve por exemplo a aprovação do novo arcabouço fiscal, andamento da reforma tributária e tentativas de arrecadação para manter um déficit fiscal zero.

Contam ainda com o apoio do presidente do BNDES, Aloizio Mercadante. O banco assinou em junho um Acordo de Cooperação Técnica com a petroleira que instituiu uma Comissão Mista entre as duas empresas para o desenvolvimento e inovação em transição energética e descarbonização.

Há alguns pontos de interesse comum, especialmente na agenda verde. Prates tem colocado a Petrobras cada vez mais para se tornar uma empresa de energia. Até 2028, a empresa tem planos de investir US$ 5,5 bilhões em renováveis, hidrogênio e captura de carbono. Nessa seara, há o interesse na exploração do petróleo da Margem Equatorial e de eólicas offshore na costa do Nordeste, que podem beneficiar o Rio Grande do Norte.

São ações que se relacionam com o Plano de Transição Ecológica da Fazenda, pasta que tem tentado concentrar as articulações sobre pautas verdes não apenas na Esplanada, mas também no Congresso.

A atuação da equipe econômica no Legislativo para os projetos da área, entretanto, não tem se mostrado muito acertada – exemplo disso é a aprovação de jabutis do setor elétrico que podem ter impacto na conta de luz no projeto de interesse da Petrobras que cria o marco legal das eólicas offshore.

Não é como se Prates não fosse, também, um nome de indicação política. Apesar de ser visto por parte do mercado como uma figura com viés menor de intervenção na empresa e pela sua experiência no setor, ainda assim, reformou a estratégia comercial de preços da petroleira, o que era defendido pelo então candidato Lula em sua campanha presidencial – o “abrasileiramento” dos preços dos combustíveis. Também defende publicamente o resgate do papel social na participação da companhia no PAC, por exemplo.

Apesar da movimentação de forças no jogo político, a decisão sobre se haverá alteração na Petrobras, que ainda não foi tomada, caberá única e exclusivamente a Lula, caso se confirmem as mudanças no restante da Esplanada.

Resta só lembrar que o cenário atual da Petrobras é completamente diferente da atuação da empresa nas antigas gestões de Lula. Uma Petrobras que passa a ter concorrência no refino e maior participação da importação de derivados, que não participa mais diretamente do segmento de distribuição de combustíveis no Brasil e isso tudo num universo em que cada vez mais as petroleiras concorrentes buscam outras áreas de energia para tentar descarbonizar sua produção.

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