Fonte: Sindigás/ Imagem: Insight

A recente descontinuidade de fornecimento de energia elétrica na Grande São Paulo, onde está a cidade mais populosa do Brasil, desencadeou uma crise sem precedentes e inimaginada para os dias atuais. As notícias de que 2 milhões de pessoas ficaram sem luz e centenas de milhares delas permaneceram assim por dias seguidos mostraram a vulnerabilidade dessa infraestrutura de distribuição. Ficou nítida a urgência de nos prepararmos para os efeitos adversos de eventos climáticos, que se tornam cada vez mais extremos e comuns, com opções eficientes de abastecimento energético.

Nesse cenário, o Gás Liquefeito de Petróleo (GLP) surge como uma das soluções de tecnologia já amplamente conhecidas e disseminadas, além de ser eficiente e seguro. É uma energia que merece especial atenção por ter oferta abundante; viabilidade de transporte multimodal, independente de redes e dutos que ficam comprometidos em situações de calamidade ambiental; uma enorme capilaridade; e ainda capacidade de armazenamento em todos os elos da cadeia – desde o produtor, o distribuidor e a revenda, até o consumidor final. Essas características conferem ao GLP um inigualável potencial para garantir à sociedade a provisão energética necessária para manter suas atividades em episódios como o de São Paulo.

Durante o apagão, muitas residências e pontos comerciais de áreas atingidas que utilizavam o GLP conseguiram se manter em funcionamento, ainda que de maneira limitada, quando grande parte da região estava sem eletricidade. Isso comprova a eficácia do GLP para assegurar a continuidade de serviços essenciais e, ainda, resguardar o bem-estar da população em situações críticas. E essa não foi a primeira vez que se comprovou a potência do GLP – em ocasiões similares, o energético foi muitas vezes a única alternativa capaz de superar as dificuldades de abastecimento que se apresentavam.

Entretanto, mesmo com todas as suas vantagens, o GLP enfrenta restrições ao uso que limitam seu potencial. Muitas delas se baseiam em percepções ultrapassadas, que ainda veem o GLP apenas como “gás de cozinha” e ignoram seu papel relevante na matriz energética brasileira, onde representa significativos 3% da energia total e 23% da matriz energética residencial.

Para que o GLP cumpra seu potencial de suporte às necessidades energéticas de forma ampla, é necessária a existência de uma regulação econômica que considere a importância da atração de investimentos privados, por meio dos quais será viável assegurar a excelência na prestação de serviços e a adequada garantia do abastecimento nacional – uma característica do setor de GLP. A atratividade para investimentos continuados garante um futuro mais seguro e sustentável para o setor, elevando sua capacidade de atendimento com qualidade, inovação e segurança.

Em paralelo, regulações complementares devem observar as necessidades das camadas mais vulneráveis, especialmente em um país de grande desigualdade econômica e social como o Brasil. A experiência internacional apresenta diferentes caminhos para combater a pobreza energética. Em muitos deles, o GLP estava no cerne das políticas públicas que conseguiram retirar parcelas significativas da sociedade do consumo de energéticos rudimentares. O cenário brasileiro, que tem sua matriz energética residencial com 25% de participação da lenha, também pode ser transformado. Vale destacar que não se pleiteiam subsídios para o GLP expandir seus usos, mas tão somente que possa competir com outros energéticos em aplicações para além da cozinha, como geração de energia elétrica, alimentação de caldeiras e outros.

Com um marco regulatório claro e acessível, que atenda tanto à atração de investimentos quanto à inclusão social, o GLP poderá ter papel fundamental na construção de uma matriz energética mais resiliente. Além de favorecer o desenvolvimento do setor, esses incentivos seriam importantes para reforçar o compromisso do país com a transição energética e com a proteção das populações mais vulneráveis. Em um contexto de alta frequência de eventos climáticos extremos, o GLP pode – e deve – ser parte da resposta para garantir uma sociedade mais justa, resiliente e preparada para os desafios do futuro.

Sergio Bandeira de Mello

Presidente do Sindigás


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