Fonte: Sindigás

A Agência Internacional de Energia tem demonstrado, nos últimos anos, grande interesse na disseminação de energias mais limpas para cocção. Há uma atenção especial para o continente africano, que apresenta números assustadores relacionados à falta de acesso ao clean cooking, com milhões de mortes prematuras anualmente. Infelizmente, muitos países levam tempo para entender a gravidade do problema.

O Brasil, de dimensões continentais e marcado por profundas desigualdades sociais, tem a oportunidade, a partir das iniciativas criadas, de liderar a implementação de um modelo que solucione a falta de acesso a energias mais limpas para cocção. O programa Gás para Todos, apresentado ao Congresso, leva algumas provocações de melhoria ao Auxílio Gás, uma tentativa de conter o agravamento da restrição de combustíveis adequados para as cozinhas ainda durante a pandemia.

O Gás para Todos é uma iniciativa louvável. Busca uma ambiciosa, e necessária, inclusão de mais beneficiários – o Governo Federal aponta para 20 milhões de famílias a serem alcançadas. E traz, ainda, a proposta de aumento do valor do benefício.

Entretanto, é essencial prover um sistema de pagamento eletrônico e instantâneo que possa baixar os custos operacionais das operações do programa, bem como reduzir fraudes e desvios de finalidade. Uma regulamentação bem desenvolvida também ajudará a garantir que o desconto aos beneficiários seja usado na compra da energia substituta da lenha e outros combustíveis rudimentares. Essas são premissas para um programa que vise, efetivamente, combater a pobreza energética.

Estamos diante de um desafio, mas também da oportunidade de vivenciar uma jornada espetacular. Ao longo dessa caminhada, há ainda de se considerar questões culturais a serem enfrentadas e é fundamental contar com o apoio de uma ampla campanha de conscientização sobre os danos causados, especialmente à saúde, pela queima da lenha em cozinhas rudimentares.

Hoje, vemos um amplo movimento de organismos e governos em prol da erradicação da pobreza energética. O tema consta dos objetivos de sustentabilidade da ONU e, recentemente, foi registrado no parágrafo 53 da Declaração de Líderes do G20:

“Comprometemo-nos a acelerar os esforços para alcançar o acesso universal ao clean cooking até 2030, inclusive através da formulação e implementação de políticas facilitadoras e do fornecimento e mobilização de apoio financeiro e tecnológico de todas as fontes para os países em desenvolvimento, a fim de aumentar os investimentos anuais e apoiar a acessibilidade a projetos de clean cooking.”

Clean Cooking é uma agenda internacional. O evento do G20, no Brasil, deixou muito clara a sua importância para o mundo. E vimos na abertura da LPG Week deste ano, na África do Sul, autoridades ressaltando a necessidade de dar acesso a fontes mais limpas de energia para cocção às famílias vulneráveis; e pudemos constatar todo o apoio do G20 nessa mesma direção. Esses movimentos são extremamente valorosos para impulsionar o clean cooking, tão urgente.

A adoção do GLP como energia para superar o uso de combustíveis perigosos no preparo de alimentos não é um pleito do setor. Não existe um caminho único, mas tanto no Brasil quanto na África, a trilha mais curta é o GLP. No Brasil, o produto está em 100% dos municípios brasileiros e conta com uma altíssima capilaridade, favorecida pela existência de quase 60 mil revendas autorizadas pela ANP, espalhadas pelo país, que serão um fator-chave no desenvolvimento do Gás para Todos.

O Sindigás colabora com as autoridades neste debate há tempos. Suas empresas associadas estão comprometidas em fornecer produto com qualidade, segurança e excelência em serviços. Os empresários estão dispostos a investir em mais infraestrutura. Enfim, o momento nunca foi tão propício para fazermos história à vista do mundo. E acreditamos que o Brasil tem todas as condições para liderar esta mudança para um cenário com maior justiça e equidade no que tange ao acesso à energia mais limpa para cocção.

Sergio Bandeira de Mello

Presidente do Sindigás

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