Sergio Bandeira de Mello

Cresci ouvindo que o Brasil é a Pátria de Chuteiras, em referência ao nosso talento nato para jogar futebol. Mas temos no nosso quintal outra jabuticaba. Essa fruta exclusiva do Brasil, que também pode ser usada como caricatura para diversas coisas que definam nossa idiossincrasia, simboliza bem nosso apego ao uso do chuveiro elétrico.

Depois de participar de um debate sobre eficiência energética, da qual pudemos constatar que o chuveiro elétrico é uma espécie de “jabuticaba do aquecimento de águas”. Somos adeptos a um equipamento que aquece água para banho via uma resistência elétrica. O uso de eletrotermia para aquecer água é comum em vários países, mas não nos níveis brasileiros. Essa jabuticaba é só nossa.

Em meio ao debate de eficiência energética, eu tinha o prazer de demonstrar que, mesmo o chuveiro elétrico sendo eficiente na troca de calor, não pode ser considerado eficiente se levarmos em conta o bolso do consumidor. A conta é simples, mas surpreende.

Vamos seguir o raciocínio: a central térmica, geradora de energia, tem uma perda de 55% de calor na geração; as linhas de transmissão perdem outros 10%; e o chuveiro outros 10%. Logo, a perda a ser analisada, ou a eficiência a ser contabilizada, seria a da linha total, o que resultaria em uma eficiência acumulada de apenas 36%. Já quando levamos o gás até o local de aquecimento da água, a perda no processamento e no transporte é de 10% e a do aquecedor, 20%, o que resulta uma eficiência acumulada de 72%.

Então, queimar gás e transmiti-lo como energia elétrica para aquecer água é menos eficaz que levar gás para aquecer água no ponto de consumo. Agora podemos concluir que a nossa pátria de chuveiros elétricos segue rumo a um mundo obscuro da ineficiência energética.

O mundo debate a redução de gases de efeito estufa, a redução de consumo de energéticos fósseis, emissões de CO2 e de metano, entre outros. Mas esse debate não pode ser construído sob a intenção de criar um mundo mais desconfortável para as pessoas. Estamos progredindo como país. Mesmo em meio a crises econômicas e políticas, estamos progredindo. O progresso traz consigo conveniência, e pedir que as pessoas consumam menos energia é incompatível com o progresso, assim a palavra de ordem deve ser Eficiência Energética.

Muita gente sonha com o fim dos combustíveis fósseis, o que me parece uma bobagem. Temos em 2016 o carvão com mais de 29% de matriz energética mundial. Logo vemos que outras energias entram, ocupam seus espaços, mas o consumo cresce e os demais energéticos persistem e têm o seu lugar.

As energias renováveis, sejam a eólica, a solar e os biocombustíveis, vão ocupando espaços, mas precisamos aumentar o conforto e a comodidade com diminuição de consumo energético.

Logo, estamos reféns da eficiência energética. Por isso, é importante comprar equipamentos com melhor nível de eficiência, que vai ter reflexo direto no bolso, além de colaborar com a coletividade para o uso mais eficiente da energia. O mesmo vale para o aquecimento de água para banho. A melhor opção é usar gás combustível, que garante mais conforto, com menor gasto e menos perdas, aumentando a eficiência energética do país.

Sigamos apaixonados por futebol, mas não por chuveiros elétricos. O gás combustível é a melhor saída para o nosso bolso, para a qualidade de nosso banho e como contribuição à eficiência energética em geral para toda a sociedade.

Sergio Bandeira de Mello é presidente do Sindigás


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